São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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O valor da pesquisa

PAULO SÉRGIO P. DE CARVALHO

O 16.º Congresso Paulista de Odontologia, realizado em janeiro pela APCD/SP, demonstrou um progresso tecnológico alucinante de materiais e de equipamentos odontológicos. Simultaneamente ao evento, ocorreu uma reunião no Maksoud Plaza –pouco concorrida, por sinal– em que se discutiu, infelizmente só de forma acadêmica, a pesquisa na odontologia. "Infelizmente" porque seria ideal uma discussão de alto nível entre grupos universitários de pesquisa, as indústrias e os próprios cirurgiões-dentistas.
Mesmo assim, a iniciativa do professor João Humberto Antoniazzi, com a coordenação do professor Flávio Fava e a participação do professor Ivan Andreas Mjor, alcançou seu objetivo, ocupando lugar de destaque no Congresso. É uma iniciativa que precisa ser conservada, estimulada e repetida, para se criar uma consciência do valor da pesquisa.
O professor Fava observou que há uma lacuna entre a ciência básica e a clínica. No entanto, é preciso lembrar que uma é decorrente da outra. Sobre a investigação científica no Brasil, sem dúvida muitas das pesquisas revelam-se repetidas ou com simples teor comprobatório, mas de incontestável valor, inclusive para a avaliação do estágio de nossos neopesquisadores, que passam a ter pesquisas originais como parâmetro. Da maturidade do pesquisador surgirão novas metodologias e as cotribuições crescerão.
Mesmo reconhecendo a limitação do Brasil, o baixo investimento da pesquisa, a dificuldade de financiamentos e alguns privilégios, realiza-se investigação científica séria, notadamente nas universidades públicas paulistas e, com algumas raras exceções, nas federais. Em relação a investimentos em pesquisa, a realidade brasileira mostra-se sofrível, por ter recursos limitados de aplicação.
Desde janeiro, as empresas já podem aplicar 8% do IR a ser recolhido nas universidades, o que deverá provocar uma significativa injeção de recursos. Vislumbra-se aqui uma perceria profícua. Então, por que não incrementar programa paralelo, através do qual a autorização da comercialização de materiais odontológicos estaria vinculada à necessidade de comprovação por órgãos competentes, como as universidades?
Com base no aspecto científico da informação, que ajudaria na seleção da terapêutica e do melhor material, não seria mais seguro para o profissional e para o paciente? Esperamos que esta e outras reflexões possam contribuir para a melhoria da pesquisa nas universidades. Um decisivo passo foi dado durante o Congresso da APCD.

PAULO SÉRGIO PERRI DE CARVALHO, 40, é vice-diretor e professor titular da Faculdade de Odontologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Araçatuba.

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