São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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SOUNDGARDEN

JONATHAN GOLD
DA "SPIN"

O guitarrista do Soundgarden, Kim Thayil, rei dos riffs, está de pé na avenida da praia de Coogee, Austrália, olhando tristemente em direção a Seattle. Ou talvez ele esteja apenas avaliando as mulheres de topless que tomam sol na areia branca. O baterista Matt Cameron foi ao zoológico, o baixista Ben Shepherd está no hotel, recuperando-se da viagem de avião, e o cantor Chris Cornell está na praia.
"Isto daqui é o paraíso", diz Thayil. Diante do hotel onde o Soundgarden está hospedado enquanto ensaia para sua primeira turnê, completando seu quarto e melhor álbum, "Superunknown", Thayil gesticula para enfatizar o que está dizendo.
"Minha mãe anda por aí dizendo que tem orgulho de mim", conta ele, "e que eu tenho genes fantásticos, e olhem no que deu minha ótima educação musical. Desculpa, mãe, eu sei que você estudou para ser uma pianista concertista na Royal Academy of Music, sei que você foi professora de música por 20 anos, mas a minha educação musical eu consegui me trancando no quarto, quando era teenager, e ouvindo Kiss".
Parece estranho fazer uma matéria sobre o Soundgarden sem mencionar Seattle. Resolvo ligar para Jonathan Poneman, da Sub Pop, para obter uma citação que é praticamente obrigatória nos perfis do Soundgarden. "Existe em 'Superunknown' uma perspectiva, uma integração natural de idéias, que acho que a banda não havia captado realmente desde 'Screaming Life'. Ele redefine todo um gênero de rock para melhor", diz Poneman.
Todo mundo conhece a história do Soundgarden: Kim Thayil foi colega de escola de Bruce Pavitt, fundador do Sub Pop, e Hiro Yamamoto, o baixista original do Soundgarden. Pavit e Yamamoto foram para a faculdade em Washington, e Thayil, como não encontrou emprego foi para a Universidade de Washington. Thayil, Yamamoto e Chris Cornell formaram o Soundgarden, onde Cornell era baterista e cantor. Matt Cameron tornou-se baterista da banda em 86, e Ben Shepherd tomou o lugar de Yamamoto e Jason Everman no início de 90.
Hoje Chris Cornell, que já foi a epítome do musculoso deus roqueiro de cabelos longos, está de cabelos curtos. Cornell tem feições fortes, lábios grossos, olhos penetrantes e um rosto muito expressivo. Mais importante do que isso é que ele possui a única voz no rock que tem alguma relação com as grandes divas da ópera.
"As pessoas sempre pensam que somos porcos machistas. A gente toca música masculina, um rock realmente poderoso. Fazemos rock sem aquelas seções longas e sem sentido, que não vão para lugar nenhum, sem aqueles solos estúpidos de guitarra, sem aquele batom todo. Somos o que somos. Acho que não estamos muito interessados em mostrar um lado feminino e sensível. Mas acho que um dos motivos pelos quais nos acham machistas é porque não estamos disponíveis. Chris, por exemplo, é super sexual em cima do palco, mas depois que o espetáculo termina ele não pertence a ninguém. Acho que as pessoas sentem isso. Acho que as mulheres têm medo da gente", diz Thayil.
"Fizemos um show no Olympia logo antes do lançamento de 'Badmotorfinger', e aqueles adesivos riot grrrl de 'Kill Rock Stars' (Mate Astros do Rock) estavam saindo. Havia umas camisetas assim, superlegais, e eu queria comprar uma, mas o cara me disse 'Nada disso, cara, você é um astro do rock'. Eu pensei, 'que idiota bitolado!' Afinal de contas, nós lutamos muito. Éramos pobres. Passamos anos dormindo no chão das casas das pessoas quando estávamos em turnê. Não temos aquela atitude que as pessoas parecem pensar que temos, aquele machismo, o lance das drogas", diz Cameron.
"Sabe de uma coisa estranha", diz Cornell, " nenhum de nós é muito ligado em drogas, mas 'Superunknown' dá a impressão de ter sido feita para quem é. Se você ouve o disco sem ter tomado nada é legal, mas se você toma, parece que o disco foi concebido para esse estado. Não sei explicar por quê".
Tradução de Clara Allain.

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