São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Artista quer abraçar a Terra com esculturas

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Lançamento: Sete Ondas. Protótipo de uma escultura planetária de Amélia Toledo
Quando: hoje, às 18h30
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, região central de São Paulo, tel. 011/277-3611). Até 27 de março.

A artista plástica Amélia Toledo quer abraçar o mundo. Não literalmente, é claro. Não se é tão ingênuo aos 67 anos. Amélia quer abraçar o mundo com esculturas. Seu projeto "Sete Ondas", que será lançado hoje no Centro Cultural São Paulo, quer espalhar esculturas de aço inoxidável em formas de ondas por 15 países, dos Estados Unidos à Austrália, da França ao Japão.
É o projeto mais ambicioso da artista, que começou a pintar há 50 anos, já participou de cinco bienais em São Paulo e cuja obra já rodou o mundo –foi exposta nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha, na Holanda e na França.
"Sete Ondas" tem duas dimensões, segundo Amélia. A primeira é a da escultura feita com sete chapas de aço inoxidável de 4,5m de comprimento por 1m de largura que, depois de montadas, podem chegar a um comprimento que varia de 20m a 30m. A outra dimensão é imaginária e aponta para o observador ideal. Vistas de satélite ou por um astronauta, as esculturas dariam a impressão de estar abraçando o planeta.
"A idéia básica é abraçar a Terra", diz Amélia. "Estou muito interessada nas coisas que ligam o mundo e os povos. Quero acentuar as forças de sobrevivência, não as de destruição. Pode ser idealista, mas sou assim."
São essas ligações que levaram Amélia a trabalhar com o sete e as ondas, dois símbolos extraculturais, cujo significado quase não tem variação seja na Índia ou no Havaí, dois outros alvos de seu projeto.
Sete, segundo a artista, é o princípio da criação: Deus criou o mundo em sete dias, a luz branca se abre em sete cores ao atravessar o prisma. Amélia diz ter escolhido as ondas porque elas "estão no limite da matéria e no princípio físico do som e da luz".
"Sete Ondas" faz parte de uma série de trabalhos da artista chamada "Indícios de Sinergia", na qual ela investiga elos do homem com a Terra e da ciência com a arte. "Estou preocupada em vencer a idéia de sofrimento", resume.
Arte e indústria
Acaba aí a virtual poesia. Para produzir e instalar as esculturas em 15 países Amélia precisa de US$ 400 mil. Ela não se assusta com a cifra. Para suas duas exposições, no Masp no ano passado e a que está no Centro Cultural, ela conseguiu quatro toneladas de aço inoxidável da Acesita e de outros distribuidores e permissão para usar as instalações de meia dúzia de metalúrgicas. "Consegui muitas coisas só com um telefonema", conta.
Agora, as negociações são internacionais: Amélia vai conversar com a Krupp alemã e a Japan Steel. Cada obra consome 1,5 tonelada de aço (US$ 6 mil) mais US$ 10 mil de mão-de-obra. Multiplique isso por 15, some o valor do transporte e se tem US$ 400 mil.
"Sete Ondas" não está partindo do marco zero. Amélia já tem o OK inicial de três países: Alemanha, França e EUA. Na Alemanha, a obra ficaria na Casa da Cultura dos Povos em Berlim. O Centro Internacional de Arte e Escultura, de Vaison-la-Romaine, sul da França, também tem interesse pela obra. Nos EUA, o Museu da OEA (Organização dos Estados Americanos) já tem agendada uma exposição de Amélia, mas ela não sabe se instala lá suas "Sete Ondas".
A negociação com patrocinadores é o processo mais complexo, segundo a artista. As esculturas, ela diz que faz em seis meses.

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