São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Mafioso japonês se contradiz em depoimento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REPORTAGEM LOCAL

O japonês Hitoshi Tanabe, 32, negou ontem em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) pertencer à Yakuza, a máfia japonesa. Mas ele caiu em contradição: disse ao ministro-relator Sydney Sanches que integrou a organização contra sua vontade. Em seguida, tentou negar o vínculo e afirmou que nunca teve "qualquer atividade dentro da organização".
Segundo Tanabe, seu dedo mínimo da mão esquerda foi cortado pela Yakuza quando ele tentou se desvincular da organização. Em conversas com agentes da PF (Polícia Federal) em São Paulo, Tanabe havia relatado como, aos 23 anos, ele próprio havia mutilado seu dedo, que depois teria sido oferecido a um superior envolto em um lenço branco. O japonês, que está preso em uma cela da PF, em Brasília, negou as acusações de tráfico de cocaína
Durante o depoimento no STF, Tanabe disse que pretende continuar morando no Brasil. Ele afirmou que tem uma empresa de compra e venda de automóveis. Os advogados de Tanabe têm dez dias para apresentar sua defesa prévia no processo de extradição movido pelo governo do Japão.
Tanabe foi preso no último dia 7, quando voltava para sua casa em Londrina (PR). Ele estava na cidade havia seis meses, morando com a mulher, a japonesa Kyomi, e a filha, Mary, 10, que nasceu no Brasil. Tanabe foi levado no dia seguinte para a PF em Brasília.
No Japão, ele é procurado por tráfico de cocaína, uma das principais atividades da Yakuza. Em fevereiro de 93, o traficante Takahiro Shiba foi preso na província de Shizuoka, no Japão. Ele confessou que os 5,8 kg de cocaína apreendidos em seu poder tinham sido enviados do Brasil por Tanabe.
A polícia brasileira suspeita que ele tenha vindo ao país ampliar a rede de tráfico de drogas. Estaria organizando uma conexão para levar cocaína ao Japão através de dekasseguis (descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão).
Tanabe chegou ao Brasil quatro dias após a prisão de Shiba. Os primeiros indícios de sua presença em São Paulo foram relatados pela Folha em abril de 93. Tanabe fez contatos com empresários da Liberdade, bairro da comunidade japonesa, e distribuiu cartões da Yamaguchi-gumi, facção da Yakuza da qual ele é um dos líderes. De São Paulo, ele foi para Londrina.

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