São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Previsibilidade marca premiação

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

A festa do Oscar deste ano quase virou um clube do Bolinha. Até parece que o convite era para dois cavalheiros e uma dama. Pura coincidência ou uma tentativa de compensar a entrega do leme a Whoopi Goldberg? Bendita troca, diga-se. Billy Cristal é um chato de galocha. Whoopi, contudo, não provocaria um "whoopie" de Eddie Cantor. Cumpriu sua tarefa com desembaraço, mas é muito mais engraçada nos filmes.
Talvez inibida pelos puxões de orelha que Tim Robbins e Susan Sarandon andaram levando, fez apenas dois jocosos comentários políticos (um sobre Hillary Clinton, outro sobre Nancy Reagan) e só abusou do calão uma vez, ao pronunciar a palavra "bitch" (cadela, mas também puta).
Não saiu de sua boca a melhor "boutade" da noite. Quem a disse foi o cineasta espanhol Fernando Trueba, ao receber o Oscar de melhor filme estrangeiro: "Gostaria de agradecer a Deus, mas como não acredito em Deus, só em Billy Wilder, obrigado, Billy Wilder".
Exceto pela escolha de "Sedução" (todos esperavam a vitória do chinês "Adeus, Minha Concubina"), não houve surpresas nas premiações. Nem injustiças de monta.
Victor Fleming
Com dez Oscars (sete por "A Lista de Schindler" e três por "Parque dos Dinossauros"), Steven Spielberg só não bateu um recorde porque em 1939 Victor Fleming também concorreu com dois filmes ("...E o Vento Levou" e "O Mágico de Oz"), que, juntos, conquistaram 11 estatuetas.
Spielberg venceu nas categorias esperadas, surpreendendo um pouco no quesito direção de arte e cenografia, que muitos contavam como uma barbada de Dante Ferretti e Robert J. Franco, os magníficos decoradores de "A Época da Inocência", de Martin Scorsese.
Contrariando os que apostavam em Winona Ryder, achava a menina Anna Paquin uma autêntica barbada, pelo simples fato de que crianças, velhos e minorias étnicas costumam levar a melhor quando concorrem ao Oscar de coadjuvantes. Por isso, aliás, não era Winona quem mais a ameaçava, e sim a mulata Rosie Perez. Anna repetiu o feito de Patty Duke (que tinha 16 quando ganhou o Oscar por sua atuação em "O Milagre de Anne Sullivan") e Tatum O'Neal (que tinha dez ao ser premiada por "Lua de Papel").
Arraso da noite: a femme-fatalíssima Sharon Stone (que olhos! que ombros! que..., perdão, leitores). Maior tristeza: rever Deborah Kerr naquele estado. O fino do cavalheirismo: Bruce Springsteen beijando no rosto a mal-educada Whitney Houston e compartilhando o seu Oscar (pela canção "Streets of Philadelphia") com Neil Young, que concorria com outro tema do mesmo filme. Beijo nos apresentadores é praxe em cerimônias do gênero, mas Whitney havia feito uma careta ao ler o nome da canção premiada, de fato a melhor de todas.
Apesar de alguns deslizes (problemas de som, substituições de última hora, o teleprompter pifou na hora de Clint Eastwood introduzir o prêmio de melhor direção), há muito não se via uma entrega do Oscar tão escorreita e sem cafonices.
Cobertura
O SBT já saiu ganhando ao optar por uma cobertura completa, sem os cortes e as edições que a mesquinhez da cúpula global nos impunha. Boris Casoy e Rubens Ewald Filho, principalmente este, fizeram um bom trabalho jornalístico, informativo e descontraído. Boris enfatizou além da conta a "atualidade" de "A Lista de Schindler", mas em matéria de exagero nada, é claro, superou as patéticas e avinhadas intervenções de Tônia Carrero no Gallery, o Spago da paulicéia. Que no próximo ano o SBT nos poupe daquela constrangedora reunião de pinguins e peruas condenados ao anonimato. Mais provinciana, impossível.

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