São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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"Pentesiléias" devoram seus homens

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Título: Pentesiléias
Autora: Daniela Thomas
Elenco: Bete Coelho, Giulia Gam, Renato Borghi
Direção: Bete Coelho
Música: José Miguel Wisnik
Cenário: Daniela Thomas
Onde: Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil (Rua 1º de Março, 66, centro do Rio, tel: 021-2160237)
Quando: estréia hoje (para imprensa e convidados), às 21h. Fica em cartaz às quintas, sextas e domingos às 19h e aos sábados às 18h e 21h, até 22 de maio
Quanto: CR$ 2 mil

"Pentesiléias", espetáculo de Daniela Thomas, dirigido por Bete Coelho, e estrelado por Giulia Gam, Renato Borghi e a própria Bete, estréia hoje no Rio. A peça tem uma narrativa linear, com começo, meio e fim, e é definida pelos participantes como "uma tragédia moderna". Inspirada em "Pentesiléia", do alemão Heinrich von Kleist, conta a história de uma princesa que se apaixona por Aquiles e acaba por devorá-lo.
Giulia Gam, 27, é esta princesa: "Uma personagem que retrata a própria natureza", explica. "Sendo uma amazona, tem no homem um inimigo. Só que, ao encontrar Aquiles, vê aflorarem todos os os seus desejos de paixão. Como não tem conhecimento dos conceitos e preceitos que regem o mundo dos homens, ela o mata. Beijar, morder, qual a diferença? É assim que ela devora Aquiles."
A rainha Bete Coelho, 31, estréia como diretora neste espetáculo que ela, Giulia e Daniela projetaram juntas: "Esse trabalho só foi possível porque nos conhecemos há muitos anos. E a idéia de assumir a direção partiu um pouco delas. Num espetáculo anterior, 'Rancor', de Otavio Frias Filho, eu já dirigira os atores, enquanto Jaime Compri cuidava da parte mais conceitual. E desde então eu pretendia fugir à essa tendência moderna na qual o símbolo é mais importante que a coisa dita."
As três apresentaram o projeto ao Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio. Segundo Bete, "Daniela escreveu a peça com os três atores principais em mente. No meu caso, ela escreveu mais para a atriz do que para a mulher. Meu monólogo tem rubricas de amor, ódio, tristeza, ira. Sabendo como represento, pôde usar e abusar de todas as teclas do meu piano. E posso afirmar que este é, em teatro, o melhor trabalho até aqui, meu, do Renato e da Giulia.".
Giulia desdobra-se para poder vivenciar plenamente a princesa Pentesiléia. A partir de agora, vai dedicar os três primeiros dias da semana à gravação da novela "Fera Ferida" (são 60 páginas para decorar toda semana). De quinta a domingo, estará no teatro. O desgaste, inclusive físico, é grande:
"Mas eu estava, mesmo, querendo voltar ao teatro", conta. "Já tinha feito muita coisa desde que trabalhei com Gerald Thomas: filmes com Bressane, minissérie em Portugal, viagem pela Europa, especiais com Guel Arraes. Mas teatro é teatro. Não sei até que ponto a TV interfere em meu trabalho no palco. Num primeiro momento, cheguei a recusar o trabalho na novela. Mas a Globo me ofereceu condições irrecusáveis, entre elas tempo para fazer a peça."
Giulia está se descobrindo mais solta, mais engraçada, com mais inclinação para comédia do que imaginava antes. "Sinto-me mais madura, capaz de saber exatamente as diferenças entre um trabalho no teatro e outro na televisão. No palco há todo um ritual. Quando pisamos nele, tudo se resume a uma relação nossa com a platéia. É aquele história do umbigo do mundo. Cada performance é única. É por isso que o teatro não morre: a cada récita, o ator cria nova obra."
Bete concorda. Fala das referências que a atriz vive em cada trabalho. Cita Roland Barthes: "É no teatro que se resolve o impasse amoroso". Sorri quando ouve Daniela dizer que seu texto é um pouco "roubado" do próprio Barthes, além de James Joyce, William Shakespeare, Eurípides, Haroldo de Campos. Bete acredita que o ator perdeu o narcisismo que lhe cai tão bem. E que seu trabalho como diretora visa estimular o ego do elenco.

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