São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Autora acha texto feminino

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Não foi por acaso que Daniela Thomas, 35, criou seus personagens com o pensamento nos atores que vão representá-los. A idéia da peça surgiu justamente da vontade de fazer alguma coisa a partir de sua experiência nas coxias de teatro. E foi assim que a cenógrafa se transformou em autora.
"O ator é aquele que, no palco, pode fazer tudo o que lhe é proibido fora dele: matar, roubar, praticar incesto", lembra Daniela. "O ator é um ser volúvel, que vive num meio onde todo mundo se apaixona por todo mundo. É um vampiro de si próprio. Um hipocondríaco que tira energia de sua dor."
Daniela explica que é disso que trata a peça: relações normais levadas às últimas consequências e logo convertidas numa tragédia moderna. Para ela, os atores são como mulheres: descontrolados, sem humor, indomáveis, histéricos.
Seu texto é fundamentalmente feminino, mas não feminista. De início, ela supôs que a obra de Von Kleist, fosse ideal para desenvolver seu tema, sobretudo pelo final distinto da tragédia original: Pentesiléia, em vez de ser morta por Aquiles, apaixona-se por ele e, literalmente, o devora. Mais tarde, percebeu que uma simples adaptação não funcionaria. E partiu para seu próprio texto.
"No começo, fiquei receosa de que o título desse margem a trocadilhos. Mas não. Acho que nós, atores ou mulheres, somos isso: pentelhos. Sabemos incomodar."

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