São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 1994
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Reinaldo e G rompem mimetismo criativo

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Com o desenvolvimento da marca Reinaldo Lourenço nos últimos dois anos, entretanto, duas coisas se verificaram: o estilista quase que apaziguou seu furor criativo, deixando de desafiar sua clientela, dando a ela apenas o que ela queria –e precisava. Por sua vez, Gloria abriu espaço para o marido. Junto com isso o fato de que, trabalhando basicamente com os mesmos tecidos, os dois desenvolveram uma espécie de mimetismo, com mais semelhanças que diferenças.
Para todas
Em seu primeiro desfile conjunto em dois anos, o que se vê agora é um quadro diferente. Gloria deu aula de bom gosto, em peças que demonstram novos tempos, atualidade e sintonia com tendências internacionais sem afetações. Ainda, uma moda usável, que não espanta as clientes. Há belas roupas tanto para moderninhas de última hora quanto para quem quer aparecer bem no casamento ou na festa badalada da semana.
O bom corte
Merecem especial menção: os ótimos corte e modelagem de Gloria Coelho, em especial nos veludos e nos couros, os sapatos –os masculinos, os pratas e os sapatinhos de boneca de camurça, os all-star. Sem falar no depurado trabalho de estampas de sua equipe, com as blusas em tela tipo tatuagens e desenhos variados.
Mais: vêm da G as estampas que vão dar a cara do outono-inverno na cidade, com motivos como os passarinhos, a estrela, ou os anjos barrocos. Outros destaques: a saia suspensa por fechos de metal, os microblazers (como em Gaultier), peças em pele de cobra, as rendas destroyer quebrando a sisudez dos trajes de festa e os napoleônicos –clássicos de Gloria Coelho. Como desfile, as modelos fluíam na passarela, com momentos felizes como a abertura –emocionante, com os passarinhos– e as entradas com várias modelos em seguida. Malu Fernandes foi quem fez brilhar a velha guarda. Bons momentos, também na G, com os melhores xadrezes da temporada.
Em Reinaldo Lourenço, vários méritos. Primeiro, o de confundir; agradar a parcela de seus clientes que buscam as tais roupas de casamento, agora só mesmo com as roupas de casamento, com muito veludo alemão e crepes de seda. Ainda, o fato de ser feito nesta coleção uma moda que ousa mais, que arrisca mais, assumindo erros e acertos. E os erros também vieram. Áridas combinações de corselets, de kilts e microssaias e de saias com anquinhas e volume.
Também a visível influência da moda de Helmut Lang (nos Riders, como já usados pelo estilista austríaco e nos vestidos em cores tipo neon, com tela preta sobreposta). O resultado foi um visual mais moderno sim, mas o preço foi alto. Finalizando, foram desfiles importantes de ruptura, que mostram também o casal de estilistas atento ao que se faz na moda underground. Agora é acompanhar para onde vão os dois depois disso.

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