São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quércia elege FHC como principal alvo

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Virtual candidato do PMDB à Presidência da República, Orestes Quércia disse ontem que o ministro Fernando Henrique Cardoso fez acordo "na calada da noite" para que "sonegadores anti-patriotas" parcelassem em 80 meses dívidas com o governo federal no valor de US$ 15 bilhões.
Trata-se, segundo Quércia, de dívidas que empresários tinham com a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social). Ao criticar FHC, o ex-governador sinalizou que a provável candidatura presidencial do ministro da Fazenda será o principal alvo de sua campanha eleitoral. Procurado pela Folha para responder aos ataques do ex-governador, FHC não havia atendido a reportagem até às 19h30.
"Enquanto isso, o Supremo autorizou o pagamento de atrasado aos aposentados e o ministro mandou pagar em 30 meses", afirmou. Segundo ele, o acordo da dívida da Cofins tem como objetivo "privilegiar uma candidatura (de FHC) e essa elite corrupta e incompetente e que vive às custas do governo deste país".
"Recentemente, houve aumento de impostos que vai trazer este ano mais US$ 5 bilhões para o governo federal. Imaginem quanto significa de lesão e violência ao interesse público esse ato do ministro", afirmou Quércia.
Quércia fez essas acusações no discurso em que recebeu apoio do governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho à sua candidatura. O governador usou a máquina pública do governo para anunciar sua adesão. Cerca de 4 000 pessoas estavam presentes –a maioria era de funcionário público. Carros oficiais superlotavam o estacionamento do Palácio dos Bandeirantes.
Fleury anunciou apoio a Quércia após um longo período de indecisão. Inicialmente, o governador tentou medir forças com seu padrinho político. Diante da fragilidade de seu esquema político, recuou e juntou-se ao ex-governador. Fleury quer agora ocupar espaço político no PMDB nacional.
Ao contrário de FHC, todos os outros presidenciáveis foram poupados no discurso de Quércia. Mais tarde, em entrevista coletiva, ele também atacou o petista Lula. "É um candidato de direita que se faz de esquerda. O PT é uma espécie de oligarquia. É uma espécie de Mussolini com sua ação política na Itália aqui no Brasil".
Em alguns momentos de seu discurso, Quércia lembrava o ex-presidente Fernando Collor. Falou mais de uma vez que quer ganhar para defender os "pobres e os desprotegidos". Quércia disse ser o único candidato que defende os pobres.
Fleury se preocupou mais em fazer um discurso de prestação de conta sobre seu governo. Em seu discurso, passou quase meia-hora falando de sua obras. Mas também tentou demonstrar que tem controle do PMDB paulista.
Disse que, se quisesse, seria eleito senador ou deputado federal com a maior votação da história de São Paulo. Mas afirmou que preferiu cumprir o compromisso com o eleitor de ficar até o fim de seu governo. Fleury declarou que tem liderança em outros Estados e destacou sua importância no apoio de senadores do PMDB a Quércia.Oito senadores do PMDB compareceram à festa do PMDB paulista. Ronan Tito (MG) disse que o petista Lula não pode governar o país "porque nunca em sua vida dirigiu sequer um carrinho de pipoca".

Texto Anterior: Prefeitura de BH usa URV e desagrada PT; Edital para privatizar portos sai em abril; Procuradoria do MS pede prisão de 2 empresários
Próximo Texto: Luiz Henrique vê problemas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.