São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Banco Mundial mostra desperdício de verbas

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe do Banco Mundial (Bird), em reunião inédita ontem com empreiteiros brasileiros, chamou a atenção para o desperdício do dinheiro que empresta ao país.
No encontro, realizado em São Paulo, a equipe alertou também para a necessidade de eliminar irregularidades nas concorrências públicas. O Bird é responsável pelo financiamento de obras no país.
O representante do Banco Mundial no Brasil, o queniano Braz Menezes, disse que o governo federal, Estados e prefeituras não aplicam o dinheiro que tomam emprestado.
Nos últimos 13 anos, o Bird aprovou a liberação de US$ 21 bilhões, mas o governo aplicou apenas US$ 7,6 milhões. O restante é desperdício e prejuízo, avaliam os técnicos do banco.
A reunião com o Banco Mundial foi promovida pela Apeop (Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas). Participaram cerca de 60 empreiteiros e representantes de entidades da construção de todo o país.
Braz Menezes disse à Folha que no Brasil ainda é grande a resistência, nos setores da construção e fornecedores, em consertar as "distorções de mercado". Os cartéis, na sua opinião, teimam em querer administrar preços.
Para o representante do Bird, o banco procura incentivar a realização de concorrências internacionais para furar o bloqueio dos cartéis. Essa prática, segundo ele, já tem efeito no Brasil.
Menezes dá um exemplo: um hidrômetro (aparelho para medir quantidade de água) não podia ser comprado no Brasil, até o ano passado, por menos de US$ 60.
Graças a uma concorrência internacional, o governo do Ceará adquiriu a mesma peça, de uma empresa estrangeira, por US$ 17.
O advogado do Bird André Ramalho disse ontem aos empreiteiros que a direção do banco (em Washisgton) estranhava o fato de alguns setores da construção resistirem na prática de "formar preços".
Ele se referia aos acertos de construtores, antes de uma concorrência pública, para definir os preços que irão propor ao governo em uma determinada obra.
Esse tipo de acordo impede que o governo economize o dinheiro público. "Isso acontece notadamente no Brasil", disse Ramalho.
A equipe do Bird incentivou os empreiteiros a denunciar ao escritório do banco, em Brasília, irregularidades de concorrências públicas. As licitações suspeitas podem ser anuladas.

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