São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Carlinhos Brown "rege" o 1º Perc-Pan

HÉLIO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Carlinhos Brown "rege" o 1.º Perc-Pan
O festival de percussão, realizado em Salvador, foi aberto anteontem com apresentações de grupos de oito países
O palco do Teatro Castro Alves abrigou a maior reunião jamais vista no Brasil de percussionistas de todo o mundo. Ao longo de duas horas e quarenta e cinco minutos, grupos da Coréia, India, Hungria, Antígua, Cuba, França, Inglaterra e Brasil mostraram um panorama do que acontece no mundo da percussão. Era uma espécie de aperitivo do que vai acontecer na capital baiana até amanhã, quando se encerra o 1º World Percussion Panorama, no Pelourinho.
O grupo de Antígua faz uma espécie de calipso que sem muita abstração soa como lambada ou samba a partir desses tonéis. O grupo, segundo Leon Kuma Rodney, segue uma tradição iniciada depois do final da Segunda Guerra na Ilha Caribenha. O parentesco sonoro com o samba também existe na performance carnavelesca do grupo. "Existem mais ou menos oito bandas como a nossa na ilha, e todas elas saem às ruas durante o Carnaval", diz Rodney, um dos 22 integrantes do grupo.
A noite de anteontem provou que percussão rima com Carnaval até em países insuspeitos, como a Coréia do Sul, de onde vem o grupo Samul Nori, que fez uma das apresentações mais impressionantes da noite.
Usando instrumentos como o Changoo –um tambor de duas cabeças em formato de ampulheta–, os sete músicos da banda provaram ser percussionistas até o último fio de cabelo. Com chapéus e longas fitas coloridas na cabeça, executavam movimentos de cabeça que repercutiam o som dos instrumentos.
O paulista J.C. Dalgalarrondo abriu a noite numa apresentação metalinguística, em que movimentos de dedos eram "ilustrados" em seguida por sequências de som retiradas de dois tambores.
Naná Vasconcelos fez uma apresentação em duo com o indiano Trilok Gurtu - do trio de John McLaughlin, que se apresenta no Heineken Concerts em meados de abril em São Paulo e no Rio. O berimbau de Naná e o agogô de Gurtu soaram como velhos conhecidos.Outro grupo indiano, o Karnataka, demonstrou a música carnática –vertente da música indiana– retiradas de tambores feitos com pele de lagarto ou cerâmica.
Carlinhos Brown fez as vezes de mestre-de-cerimônia da noite, cruzando o palco volta e meia, como fio condutor entre as apresentações. Já no final do espetáculo, os músicos da Timbalada, com os corpos pintados, descarregaram massa sonora no Castro Alves, seguidos do Olodum.
A noite foi encerrada com todos os grupos no palco, dividido em cinco planos e níveis diferentes. O clima era de uma gigantesca jam multiétnica, em que o brasileiro Wilson Café dividia o tambor de um integrante da The Queen's Lancashire Regiment, legítima representante da percussão militar.
Carlinhos Brown, emocionado, fechou a noite dizendo que "nossa música não será mais a mesma depois disso". Não há de ser.
O 1º Perc - Pan continua hoje, com apresentações de J.C. Dalgalarrondo, Trio Franco-Brasileiro, Sangamam, Kanataka, SamulNori, Dudu Tucci e dos cubanos Los Papines, no Teatro Castro Alves.
Amanhã, às 19h, o The Queen's Lancashire Regiment, a Harmonites Steel Orchestra e o Olodum encerram o evento no Pelourinho.

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