São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Protesto por salário reúne 30 mil em Paris

ANDRÉ LAHÓZ MENDONÇA DE BARROS
DE PARIS

Cerca de 30 mil franceses saíram ontem às ruas de Paris para protestar contra o Contrato de Inserção Profissional (CIP). Segundo esse polêmico projeto, as empresas poderão pagar apenas 80% do salário dito convencional aos jovens, numa tentativa do governo de reduzir as altas taxas de desemprego.
O protesto se estendeu por mais de cinco horas, atravessando boa parte de cidade. As pessoas foram avisadas com antecedência do trajeto, para que este fosse evitado ao longo do dia. Havia mais de 3.000 policiais da tropa de choque ao longo do percurso.
O clima foi tenso durante quase toda a manifestação. Os estudantes exigiam o fim do CIP, além da renúncia de Charles Pasqua, o ministro do Interior francês. Pasqua passou a semana defendendo o projeto e exigindo uma atitude enérgica dos pais de alunos e das escolas, numa tentativa frustrada de conter o movimento.
A polícia de choque acompanhou a manifestação, cercando os estudantes e impedindo que saíssem do trajeto predeterminado. Os policiais foram apedrejados incansavelmente pelos jovens. As pedras acabaram machucando alguns dos homens da tropa de choque, além de jornalistas. A resposta da polícia era a prisão de alguns estudantes, feita com muita violência.
Alguns agentes da polícia passaram todo o tempo filmando os manifestantes, para tentar reconhecer futuramente os agitadores. A polícia já havia feito isso durante a semana nas manifestações no interior, detendo vários jovens. Além disso, policiais à paisana se misturaram com a multidão e acabaram fazendo algumas prisões.
Por volta das 17h, os manifestantes se agruparam na Place da la Nation, onde quebraram vitrines e carros. Os policiais, por sua vez, lançaram várias bombas de gás lacrimogêneo. Os últimos estudantes deixaram a praça por volta das 20h locais (16h de Brasília).
Em todo o interior da França houve manifestações importantes, especialmente em Lyon (30 mil pessoas) e Toulouse (20 mil), sem casos graves de violência. Os líderes do movimento já anunciaram que só pararão de protestar quando o premiê Balladur desistir do CIP. A revolta contra esse projeto conseguiu unir, além de estudantes, todos os sindicatos. Isso tem sido muito comemorado pelos manifestantes, uma vez que os sindicatos raramente se entenderam entre eles nos últimos anos.
A situação do governo se complicou enormemente nos últimos dias. Quase ninguém está se dispondo a apoiar o projeto. Os empresários estão em sua maioria calados. Até mesmo parlamentares de direita, que dão sustentação a Balladur, criticam o CIP.
O governo não quer recuar para não evidenciar uma derrota. No entanto, fica cada dia mais difícil imaginar uma outra solução para o problema, dada a disposição dos jovens de continuar os protestos.

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