São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Teflon e cachorro morto

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Desde a campanha para o Senado, em 1974, Orestes Quércia é alvejado por denúncias de irregularidades no trato com o dinheiro público. Não obstante, Quércia não perdeu uma única das eleições que disputou nesse período todo.
Elegeu-se senador, contra todos os prognósticos, em 1974. Elegeu-se vice-governador, oito anos depois, embora apenas na sombra da candidatura de André Franco Montoro. Ganhou nas urnas o Palácio dos Bandeirantes, em 1986, e ainda operou uma verdadeira mágica, ao conseguir fazer de Luiz Antonio Fleury Filho, virgem em experiências eleitorais, o seu sucessor, mesmo contra pesos-pesados da política paulista, como Paulo Maluf e Mario Covas, sem contar o PT.
Dava a nítida sensação de que era o candidato-teflon. Nada o que se dissesse de Quércia grudava. Vinte anos depois de iniciada a sua ascensão na política brasileira, continua sendo teflon?
Como não entendo nada de povo brasileiro, sou incapaz de responder a essa pergunta. Mas, até agora, depois de mergulhar no que parecia ser uma viagem sem retorno ao ostraciscmo, Quércia de novo coleciona vitórias. Deixou a presidência do PMDB, seu partido, sob suspeita de corrupção. Não deu explicações consideradas satisfatórias nem mesmo por algumas lideranças do próprio PMDB, mas, à esta altura, já é dono de novo do partido.
Hoje por hoje, são poucos os que duvidam que Quércia se torne candidato presidencial desse que ainda é o maior partido político brasileiro.
Quércia escolheu, claramente, o território em que travará a campanha. Como diz o senador Pedro Simon (PMDB-RS), ressuscitou Adhemar de Barros, o governador paulista ao qual se atribuía o slogan "rouba, mas faz". Quércia parece querer fazer crer que todos são mais ou menos ladrões, de forma a convencer o eleitorado a votar em quem supostamente faz. Ou seja, ele próprio.
Se vai ou não dar certo, o tempo logo dirá. Por enquanto, o que está nítido é que Quércia deixou de ser cachorro morto. Resta saber se continua teflon.

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