São Paulo, sábado, 26 de março de 1994 |
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Superando a crise
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA Nas situações difíceis precisamos de moderação, discernimento e união. A nação brasileira está enfrentando árduo desafio de natureza ética, econômica, social e política. Somos, por isso, todos chamados a cumprir o dever patriótico de manter e promover a democracia conquistada a duras penas. Nossa obrigação comum é a de consolidar as instituições. Sem harmonia e diálogo entre os três Poderes não haverá democracia.O Brasil passou por crises maiores. Confiemos no patriotismo dos membros do Executivo, Judiciário e Legislativo. É preciso, no entanto, humildade e prudência. A atual turbulência é superável, contanto que se tenha em vista o bem de todos e se ouça o justo clamor do povo. Renovamos a confiança na maturidade da cidadania por parte de nosso povo que, embora sofrido, sabe manter-se dentro da lei e na busca de concórdia social, assumindo até enormes sacrifícios. Os planos econômicos para debelar a crise são falíveis e só podem dar certo se houver a efetiva colaboração de todos os setores da sociedade. Diante das propostas do novo plano econômico, cabe-nos discuti-lo e aperfeiçoá-lo. Não podemos, no entanto, deixar de colaborar, pois da solução do problema econômico depende a sobrevivência digna de milhões de brasileiros. Duas medidas são indispensáveis. Requer-se esforço para equilibrar salários e preços. De que adianta controlar salários, se os preços continuam subindo sem regra e sem freio, forçando cada vez mais a inflação? Os que sempre obtiveram altos salários e lucros precisam, agora, fazer a sua parte e oferecer sua colaboração consciente e solidária. Só assim será possível reduzir a enorme desigualdade social em nosso país. A segunda medida consiste na multiplicação de empregos. Nos últimos meses tem sido notável a atuação do Incra, promovendo o assentamento de milhares de famílias, a capacitação técnica dos jovens e o surgimento de pequenas cooperativas rurais. Sugere-se, por algum tempo, manter as frentes de trabalho nas áreas de seca, permitindo que se plante na terra própria, de modo a compensar, pelo menos em parte, os graves danos sofridos nestes anos de provação. Essas e outras propostas encontram-se no texto publicado ontem, em preparação à "2ª Semana Social Brasileira", programada pela CNBB, para 24 a 29 de julho deste ano, em Brasília. O livro contém o resultado de 14 encontros realizados nas principais regiões, sobre o tema "Brasil: Alternativas e Protagonistas". Trata-se do "instrumento de trabalho" que incentiva busca de saídas viáveis e globais para o país e abre espaço para um diálogo criativo. Caracteriza essa reflexão a preocupação ética –seus princípios e valores– e a atenção voltada para os excluídos, que não têm condições de aceder ao processo de desenvolvimento. Através das crises e turbulências, aprendamos a preservar nossas instituições. O povo brasileiro passou pela experiência dolorosa do impeachment, revelando maturidade cívica. Saberá, agora, diante de outros países, dar exemplo de que é sempre possível encontrar soluções, quando há clima de entendimento fraterno e fidelidade ao regime democrático. Não faltará grandeza a nossos governantes. É isto que, com muita fé, pedimos a Deus. D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna. Texto Anterior: A PROPÓSITO; TÔ FORA; DO LADO DA LEI Índice |
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