São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Sistema atual emperra decisões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na raiz do agravamento das mazelas econômicas e sociais do Brasil está a desfuncionalidade do sistema político que substituiu o bipartidarismo imposto pelos militares. Pelo menos três fatores dificultam o processo de tomada de decisões: o excesso de partidos políticos, a infidelidade dos parlamentares a suas legendas e a impossibilidade de formação de maiorias sólidas em torno dos governos.
A opinião foi manifestada por dois ex-ministros econômicos ouvidos pela Folha: Delfim Netto e Mailson da Nóbrega. Delfim passou à história como czar da economia, tamanho era o poder que detinha durante os governos militares. Maílson, ao contrário, comandou as finanças numa fase em que o próprio presidente da República teve seus poderes limitados. Ele anunciou a maior inflação mensal da história econômica brasileira: os 84,32% de março de 90, último mês da gestão de José Sarney.
"Passamos do exagero da ordem da época dos militares para a anarquia absoluta dos dias atuais", diz Delfim. "Precisamos de um regime democrático funcional, com o máximo de quatro partidos, fidelidade partidária e voto distrital", completa.
"Vivemos numa democracia incapaz de produzir decisões", reforça Mailson. "Temos partidos demais e não possuímos fidelidade partidária", repete. "Vivemos uma crise de incapacidade decisória".
A pesquisa Datafolha mostra que o humor do brasileiro está sintonizado com a realidade do país. Em 1984, último ano da gestão do general João Baptista Figueiredo, a inflação anual foi de 220%. No ano passado, atingiu estratosféricos 2.800%.

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