São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Dinheiro gasto em obras viárias deixa áreas sociais descobertas

ALEXANDRE SECCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhora na taxa de popularidade de Maluf coincide com o momento em que ele se esforça para mostrar trabalho e consolidar o perfil de administrador eficiente.
É a imagem que o prefeito quer explorar em uma possível candidatura para a Presidência.
Sua agenda mostra um dia-a-dia repleto de inaugurações e cerimônias públicas. De janeiro para cá, o prefeito esteve em mais de 20 cerimônias e inaugurações.
Resta saber como a cidade será governada depois do dia 2 de abril, prazo para que ele saia se for mesmo se candidatar.
Por enquanto, Maluf está tentando erguer a imagem de administrador eficiente e tocador de obras, endividando a cidade e aumentando impostos.
Nos dez primeiros meses de governo, a dívida de São Paulo subiu 22% (Erundina subiu a dívida 61% em quatro anos; Jânio Quadros subiu 25% em três anos).
O aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano em 94 é 40% em média maior do que em 93.
Assim dá para entender por que a cidade teve em 93 o recorde de investimentos em obras públicas: US$ 800 milhões.
Mas, como o próprio prefeito gosta de dizer, "o orçamento de uma cidade como São Paulo é sempre pequeno como cobertor de pobre, quando dá para cobrir uma lado o outro fica descoberto".
Traduzindo a comparação do prefeito: a cidade não tem dinheiro para resolver todos os seus problemas. Priorizar obras viárias significa menos dinheiro em saúde, transporte, educação e habitação.
A qualidade do transporte no governo Maluf despencou de acordo com as pesquisas da Associação Nacional de Transportes Públicos. Pela pesquisa, o serviço de ônibus particular na cidade era avaliado com 61 pontos positivos quando Maluf assumiu. Em novembro de 93, a nota caiu para 24.
A promessa de campanha de entregar 120 mil casas populares não saiu do papel. O prefeito ainda prepara as licitações do projeto Cingapura, de reurbanização de favelas.
A principal intervenção de Maluf na rede municipal de 750 escolas foi criar cursos técnicos (panificação, confeitaria e mecânica) em quatro escolas.
A rede de saúde não ganhou hospitais novos e os que existem funcionam precariamente por falta de médicos, que não se sentem atraídos pela falta de equipamentos e baixos salários.
O prefeito fez sua escolha para o primeiro ano. Precisa dizer o que vai fazer se resolver ficar.
Seu vice, Sólon Borges dos Reis, já escolheu e disse que a cidade tem obras demais.

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