São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Novas regras para o mercado

SAMIR DICHY

Vítimas da falta de informação, corretores tornam-se alvo fácil de postura pouco ética
Li, infelizmente sem surpresa, a matéria de primeira página do caderno Imóveis deste jornal, editado no domingo passado, 20 de março, intitulado "Mercado tem corretor despreparado". Se o segredo de um bom negócio também está nas mãos de quem irá intermediá-lo, a má escolha deste profissional significa uma infinidade de problemas para quem deseja adquirir um imóvel. A falta de informações precisas sobre o empreendimento, assim como as condições de pagamento, poderão levar o consumidor a comprar "gato por lebre", o que está se tornando prática bastante comum no setor, para preocupação dos empresários que têm um nome a zelar.
Aproveitando-se da crise econômica, não está muito longe o tempo em que o mercado abriu suas portas indiscriminadamente, ao contratar profissionais sem especialização ou condições mínimas de preparo para o desempenho criterioso da atividade. O resultado é conhecido de todos nós. Afinal, quem ainda não se deparou com um desses corretores demasiadamente intensos na abordagem, que roda a cidade mostrando o imóvel que não quer se quer e muito menos comprar?
Fato importante a se considerar nesse contexto, é que o padrão de recrutamento deixou de seguir o modelo tradicional: salvo as exceções já reconhecidas, a grande maioria dos corretores não recebe mais treinamento no início do trabalho e, tampouco, cursos regulares de atualização. Vítimas da desinformação tornam-se alvo fácil de um comportamento pouco ético, que está levando os bons profissionais a situações muito constrangedoras. São nivelados por baixo, classificados de "picaretas" por alguns e maltratados por muitos.
A situação assumiu tal gravidade, que providências elementares e urgentes têm de ser tomadas pelo Creci (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis), no sentido de recuperar a ética entre os profissionais, a imagem externa do mercado e sua credibilidade. Entre algumas medidas, elencaria maior rigor nas condições de contratação de pessoal, frequentemente praticada sem critérios mínimos. Por outro lado, puniria a publicidade enganosa na venda dos imóveis. Alguns são anunciados sob determinadas facilidades, nem sempre encontradas pelo cliente. O objetivo é atrair o investidor e envolvê-lo em outra operação. Um procedimento que em vários países do mundo exige da empresa anunciante o cumprimento imediato do compromisso.
Outro grande problema a ser enfrentado é a avaliação dos imóveis, no caso da intermediação da venda para terceiros. Várias empresas estimulam seus corretores a subirem os preços acima do mercado para atrair o cliente, que se verá frustrado ao não concretizar a transação, dadas as impossibilidades práticas. São ações que desacreditam nosso trabalho. Perde o consumidor ao ser lesado no seu direito mais elementar –o de ser respeitado–, e todos os empresários, que acabam passando por vilões e pagando por uma atitude, aprovada somente por uma minoria. Quem trabalha neste setor há 20 anos, como eu, sabe que a alma de uma construtora está nas mãos de quem vende bem o seu produto.

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