São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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'Diário' revela intimidade de Tarkovski

DO "LE MONDE"

"Talvez o cinema seja a arte mais íntima, a mais pessoal. Para que o espectador seja convencido disso, é preciso que o autor tenha exprimido sua verdade mais íntima". Esta profissão de fé justifica a publicação do "Diário" do cineasta russo Andrei Tarkovski.
A descoberta dos pensamentos do autor de "O Sacrifício", a expressão no dia-a-dia de suas contradições e preocupações mais fecundas, permitem colocar em perspectiva o homem e a obra. Ao longo destas páginas, escritas entre o 30 de abril de 1970 e 15 de dezembro de 1986 (duas semanas antes da sua morte), os filmes se refletem no espelho que o autor coloca diante de si mesmo.
Durante estes 16 anos, Tarkovski rodou cinco filmes: "Solaris", "O Espelho", "Stalker", "Nostalgia" e "O Sacrifício", ou seja, a maior parte de sua obra. Sobre seu trabalho de diretor, não se encontram no "Diário" senão poucas observações, já que ele decidiu reunir as reflexões a este respeito em seu "Carnets de Travail" (Cadernos de Trabalho), que deve ser editado em breve. O objetivo do "Diário" é outro.
Aproveitando as horas em que não estava ocupado com as filmagens, Tarkovski anota aqui sua própria situação, o estado de suas relações com os que lhe eram próximos, com as autoridades de seu país e tudo que ele foi obrigado a experimentar, num périplo que o conduziu da Rússia à Itália, e depois à Suécia e à França.
O "Diário" revela, assim, uma personalidade febril e seus projetos, lançados às vezes numa espécie de embriaguez nascida do sentimento ilusório de uma absoluta liberdade criativa. Projetos que era preciso em seguida abandonar, retomar ou corrigir. Desta massa impalpável, feita de esperanças e decepções, de confirmações e traições, nascem os filmes, como milagres surgidos do caos.

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