São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Os boxes assistem à corrida pela TV

Jordan agradece a repórter-talismã

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi por muito pouco que a festa no box da Jordan não foi regada a champanhe. Mas não faltaram as lágrimas. De felicidade, é claro.
Com o 4.º lugar de Rubinho Barrichello (o único brasileiro que concluiu o GP Brasil), o box da equipe em que estive trabalhando neste últimos quatro dias se transformou numa confusão de abraços, sorrisos, câmeras, repórteres, mecânicos, seguranças (tentando organizar a bagunça toda), familiares do piloto e bicões (afinal, na hora da vitória, todos são velhos amigos).
A emoção foi aumentando ao longo da prova. Acompanhamos pela TV. Quem diria, eu aqui em Interlagos assistindo à corrida pela TV. Vida de repórter-empregado é isso... Mas pelo menos eu sei o que você já viu. Vamos, então, ao que a sua TV não mostrou.
8h30 - Começa o warm up. Durante meia hora os pilotos testam suas máquinas na pista. Rubinho obtém o 7.º tempo.
9h - A equipe, descontraída, desmonta e limpa os carros. Um mecânico come um picolé (gentilmente cedido pelo patrocinador) enquanto instala uma câmera no carro de Barrichello.
10h25 - Todos os pilotos desfilam, num caminhão, ao redor do autódromo. Atrás deles, uma escola de samba samba (o que mais ela poderia fazer?). Na volta para os boxes, Rubinho e Christian Fittipaldi joga seus bonés (olha o prejuízo para o patrocinador aí, gente!) para a torcida.
11h15 - Depois de novamente encher de água aquele famoso galão antiincêndio, servem-me uma pizza de muzzarela (para variar, o patrocínio). Não posso recusar.
12h25 - Após uma sessão de massagem e alongamentos nas pernas, Rubinho e Irvine entram em seus carros. Cinco minutos depois, a equipe se transfere para o grid. Apenas dois mecânicos ficam no box, preparando o pit stop.
13h - Começa o GP (isso eu sei que você sabe).
13h30 - Barrichello faz seu primeiro pit stop. Há alívio quando termina. Os familiares esboçam os primeiros sorrisos.
13h40 - "Rubinho parou!", alguém dá o alarme. Cinco segundos de lamentações. Aí, o carro aparece na TV. Correndo normalmente.
14h05 - Irvine chega, a pé, ao box. Tem cara de criança que aprontou besteira. E some.
A essa altura, a boa colocação era pressentida. E foi só o piloto cruzar a linha de chegada para a alegria explodir. "Nice job", foi o que mais ouvi.
E foi mesmo um grande trabalho. Até o cozinheiro da Jordan colaborou no pit stop. A equipe parte otimista para o Japão (GP do Pacífico). Quando deixei o box, os equipamentos já estavam sendo encaixotados, a uma velocidade digna da F-1.
A equipe parte e eu fico. Quando cumprimentei Rubens Barrichello (o pai do Rubinho) pelo êxito, ele disse: "Acho que vou ter de te levar para todos os GPs, para dar sorte".

O jornalista Mauro Tagliaferri trabalhou os últimos quatro dias na equipe Jordan

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