São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 1994
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Coreógrafa fala sobre a influência de Artaud e Béjart em sua dança

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LYON

A seguir, a coreógrafa francesa Maguy Marin explica o conceito de teatro total, fala sobre seu desligamento do Ballet de Lyon e de suas influências, como a literatura de Antonin Artaud e a dança de Maurice Béjart.

Folha – Quais são as bases fundamentais de seu trabalho?
Maguy – Sou adepta do teatro total de Artaud. Amo a mistura das artes de espetáculo. Para mim, teatro não depende apenas do texto. Teatro também significa atuação dos atores, movimento no espaço, movimento do ator em si, posições de corpos. Da mesma forma, o bailarino é alguém que utiliza seu corpo e representa como o ator, seu corpo sempre transmite alguma coisa, mesmo que seja algo abstrato. No Ocidente persegue-se muito a especificidade das coisas – como ser um violinista extraordinário, um comediante formidável. Mas, dança, teatro e música são elementos muito fundamentais, que são parte integral da vida. No cotidiano de culturas mais primitivas aparecem completamente associados.
Folha – Por que você se desligou do cargo de coreógrafa- residente do Ballet de Lyon?
Maguy – É muito trabalhoso criar para duas companhias. Fiz isso durante dois anos e não é possível continuar com essa sobrecarga durante muito tempo.
Folha – O que você acha do trabalho que o Ballet da Ópera de Lyon vem realizando com coreógrafos norte-americanos?
Maguy – Acho muito positivo para os jovens bailarinos do Lyon trabalhar com os novos coreógrafos americanos. Acho que, no momento, os bailarinos e coreógrafos americanos precisam de ajuda, porque enfrentam muitas dificuldades de trabalho nos Estados Unidos. Espero que, se um dia acontecer o contrário, os americanos também recebam os artistas franceses.
Folha – Você já disse que não seria a mesma se não tivesse frequentado, nos anos 70, o Mudra, a escola que Maurice Béjart fundou na Bélgica...
Maguy – Sim, lá encontrei professores extraordinários, que ensinavam não somente dança, mas também música, teatro, canto. Havia uma troca intensa entre os alunos, tudo servia de motor. Foi um momento que definiu minha maneira de tratar a dança.
Folha – Hoje, na Suíça, Béjart está tentando reviver o Mudra. O que você acha?
Maguy – Não sei se será possível, porque nos anos 70 vivíamos um momento muito rico de dúvidas, questões e reflexão. Mas, acho formidável porque, hoje, quando tenho que contratar novos bailarinos, me deparo com gente formada no Conservatório Nacional de Música e Dança, com um nível muito abaixo dos artistas formados pelo Mudra. (Ana Francisca Ponzio)

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