São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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Prefeitura de SP faz coleta seletiva mas enterra lixo

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase todo o lixo da coleta seletiva da Prefeitura de São Paulo, ao invés de ser reclicado, está sendo enterrado no aterro sanitário Bandeirantes, em Perus (zona norte), junto com o lixo comum.
O lixo, que é depositado separadamente (vidro, papel, plástico e metais) pela população em contêineres, deveria ser vendido para reciclagem. A prefeitura nega a irregularidade (leia texto ao lado).
A coleta seletiva continua existindo, mas só 10% do material é reciclado. Os caminhões da prefeitura continuam recolhendo os materiais depositados espontaneamente pelos paulistanos.
O lixo reciclável é levado para o centro de triagem, em Pinheiros. Mas, lá, ao contrário de ser separado e vendido, o material fica empilhado. Um outro caminhão da prefeitura o recolhe e deposita no aterro sanitário. Só papelão, separado à mão, não é enterrado.
Ontem, das 8h às 11h, a Folha flagrou dois caminhões –placas BFG-0396 e BFG-0267– entrando e saindo do centro de triagem. Eram caminhões de transbordo, que transportam lixo de depósitos para aterros municipais, e têm capacidade para 20 mil toneladas.
Às 10h51, o caminhão de placas BFG-0396 saiu carregado do centro. A reportagem o seguiu até o aterro Bandeirantes. O caminhão, da Secretaria de Serviços e Obras, carregava papel, plástico e vidro.
A denúncia partiu da geógrafa Arlete Moisés Rodrigues, professora-doutora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Arlete está pesquisando soluções para a questão do lixo e entrevistou funcionários da prefeitura, dia 17.
"Eles afirmaram que o lixo seletivo ficava estocado no centro de triagem e, posteriormente, era levado para o lixão", disse. Arlete transmitiu a informação para o vereador Adriano Diogo (PT).
Na última sexta-feira, assessores de Diogo passaram o dia no centro e confirmaram a denúncia.
Segundo o vereador, metade dos funcionários da triagem do material não estava trabalhando e a esteira (onde é feita a separação do material) estava desativada.
"Além de não cumprir a lei (que instituiu a coleta seletiva), a prefeitura está enganando as pessoas que separam o lixo e vão até os contêineres depositá-lo", afirmou Adriano Diogo.
A reportagem da Folha entrou ontem às 12h20 no centro de triagem de Pinheiros. A esteira de separação estava desligada e os funcionários –cerca de 15– descansavam após o almoço.
Havia "montanhas" de lixo no pátio e um caminhão de transbordo aguardava novo carregamento.
Há um ano, o prefeito Paulo Maluf anunciou o fim da coleta seletiva, mas recuou sob pressão de ecologistas. Diariamente, são coletadas entre oito e dez toneladas de lixo reciclável em São Paulo, o equivalente a 0,5% do total.

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