São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994 |
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Na nova F-1, ganha mais quem erra menos
FLAVIO GOMES
Dá para responder uma por uma, sem correr o risco de resvalar num nacionalismo barato. A mídia acha que Senna vai ser campeão não porque ele é brasileiro. Existem duas constatações, fatos, nada mais do que isso, que embasam a idéia de que Senna é o maior candidato ao título deste ano. Vamos a eles. Um: Senna é o melhor piloto do mundo. Ganhou três títulos, fez 63 pole-positions, é o unico campeão em atividade, tem 41 vitórias. Que se faça uma comparação com Schumacher, de um dia para o outro alçado à condição de rival imbatível. O alemão disputou 39 GPs em sua carreira. Marcou 119 pontos, ganhou três corridas e nunca largou na pole. Com o mesmo tempo de F-1, o desempenho de Ayrton foi melhor em dois itens básicos: vitórias (4 a 3) e poles (12 a 0). Ele perde para o alemão em pontos (90 a 119) e melhores voltas (4 a 8). Vale o detalhe: de 84 a 86, período que comporta essas 39 corridas, o brasileiro era piloto da Toleman (uma "Jordan" da época) e da Lotus (então a quarta força, atrás de McLaren, Williams e Ferrari). Schumacher, desde 91, dirige para a Benetton, que disputa com a McLaren a condição de segunda melhor equipe do planeta. Dois: a Williams tem o melhor carro. Nos testes do inverno europeu, mesmo quando confrontada com a Benetton em Imola, foi sempre mais rápida –a rigor, Schumacher só fez uma volta melhor que Senna no último dia dos testes, quando a Williams preparava seu carro em configuração de corrida, com o tanque cheio. Detalhe: o modelo FW16, que Ayrton usa este ano, tinha duas semanas de vida. O B194, de Schumacher, três meses. Só isso bastaria para justificar o favoritismo de Senna. Pode-se acrescentar que no ano passado, com uma McLaren inferior à Benetton (a equipe usou motores Ford de uma versão anterior), ele venceu cinco GPs e Schumacher, um. Aí Senna perde em Interlagos. Por quê? Porque ele e sua equipe cometeram erros. O piloto, ao rodar sozinho na Junção. O time, ao determinar que Senna fizesse dois reabastecimentos quando o ideal era apenas um, por duas razões: o carro tinha melhor rendimento quando estava mais pesado e Schumacher teria que parar duas vezes de qualquer jeito porque andou o tempo todo com pouco combustível no tanque. A diferença do alemão para o brasileiro após o segundo pit stop era de 5s013. Schumacher gastou 28 segundos nessa parada, do momento da entrada nos boxes até a volta à pista. Se Ayrton parasse apenas uma vez, ganharia quase meio minuto sobre seu concorrente e assumiria a liderança. O que se conclui do GP Brasil não é a débâcle da Williams, apesar de o próprio Senna ter dito que sua equipe não é favorita ao título. É, sim. Só que agora, com a volta do reabastecimento, uma corrida de F-1 é mais sensível a erros. Eles determinam resultados. Schumacher pode ser campeão do mundo? Pode, como a Nigéria pode ganhar a Copa. Foge da lógica, mas é possível. A Williams vai ter que aprender a jogar com um negócio chamado estratégia, que necessariamente inclui as paradas para combustível. Quase ninguém se deu conta, mas o pit stop decidiu o GP Brasil. Schumacher passou Senna quando ele estava parado. Não errou e ganhou. Parabéns. Felicidades. Hoje excepcionalmente deixamos de publicar o texto de Matinas Suzuki Jr., que escreve às terças quintas e sábados nesta coluna. Texto Anterior: Ex-noiva acusa Hide de agressão e roubo; Edmundo e Gilmar podem não ir à Copa; Goleiro da seleção machuca a clavícula; Popov diz que está cansado e quer férias; Inter chama Bianchi para assessor-técnico; Seleção cancela partida com Holanda; Divulgação da lista dos árbitros é adiada Próximo Texto: Corinthians enfrenta CRB Índice |
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