São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994 |
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Mulheres contam experiência da tortura
INÁCIO ARAUJO
Produção: Brasil, 1989, 100 min. Direção: Lúcia Murat Elenco: Irene Ravache Quando: hoje, às 22h Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema - Sala 3 (r. Augusta, 1.475, tel. 011/288-6780, Cerqueira César, região central de São Paulo) "Que Bom Te Ver Viva" enuncia, logo de início, sua proposta. Trata-se de saber "como sobrevivemos" e não "por que sobrevivemos", a partir de depoimentos de uma série de mulheres que viveram a experiência da tortura, durante o regime militar. O filme que o Espaço Banco Nacional de Cinema exibe hoje, no ciclo "1964: 30 Anos", promovido pela Folha, procura concretizar essa proposta usando a mediação de uma atriz (Irene Ravache). Mas o essencial são mesmo as entrevistas. A idéia de passar por cima do "por que" tem sentido. Em 1989, não se tratava de elucidar as causas que levaram algumas pessoas à militância clandestina e outras a combatê-la. A realidade da tortura, ao contrário, sua barbárie, impõe-se, continua atual. A diretora Lúcia Murat empenhou-se tanto em reviver a tortura como em mostrar como suas personagens conseguiram sobreviver e reorganizar suas vidas (no exílio e depois dele). Nesse sentido, o filme consegue dar conta de sua proposição e mostrar o "como" sobrevivemos. Se chega a cumprir esse objetivo é, em boa parte, por ter restringido seu assunto. Não se trata de mostrar as mulheres como vítimas, mas de captar alguma coisa de específico nelas, uma maneira de viver o sofrimento que diz respeito a mulheres. "Que Bom Te Ver Viva" insere a atriz Irene Ravache como uma espécie de condutora, cujas intervenções ligam uma entrevista a outra. Embora algumas intervenções façam sentido (quando critica a "neutralidade" da imprensa em relação à tortura, por exemplo), a presença de Ravache opera uma espécie de corte narrativo, que embrulha um pouco o que é realidade e o que é ficção. Em todo caso, esse é um problema secundário de um filme digno e informativo.(IA) Texto Anterior: Scorpions traz seu heavy metal ao Olympia Próximo Texto: Filha de Xiaoping virá à Bienal de SP Índice |
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