São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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Tempo hábil

Aos poucos e sem o alarde de uma nova MP, vai o governo clarificando aspectos essenciais do plano de estabilização. A principal novidade, sublinhada pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan, na última sexta-feira, é a decisão de anunciar com 35 dias de antecedência a criação do real.
Embora o uso da URV seja obrigatório em contratos envolvendo prazos superiores a 30 dias, por enquanto comércio e indústria na maioria dos casos negociam com sucesso apenas parcial, preferindo muitas vezes manter-se em prazos menores dada a incerteza sobre os novos passos do governo. Teme-se que, demorando o real, preços em URV sejam atropelados por custos à frente desse indexador.
Contra essa incerteza o governo pouco ou nada pode fazer. Afinal, a URV é uma média de índices de preços e haverá sempre preços acima e abaixo dessa média. A URV é apenas a aposta na possibilidade de os agentes convergirem na média.
Isso não impede o governo de adotar outras medidas que compensem a incerteza inerente à corrida inflacionária. Garantir que antes do real haverá um período de ajuste de pelo menos 35 dias é uma atitude que vai nesse sentido.
O prazo mínimo de pré-anúncio torna, ainda, menos provável a introdução do real já no início de maio –a não ser que o ministro FHC, desincompatibilizando-se do cargo, anuncie ao mesmo tempo a nova moeda. Deve-se notar que o governo tem insistido em explicar as dificuldades da URV até agora como resultado do pouco tempo de existência do indexador. Ou seja, o governo parece querer esperar, até mesmo para assegurar a impressão em tempo hábil das cédulas da nova moeda em volume suficiente.
De um lado, a simples eliminação do fator surpresa tira fôlego às manobras especulativas. De outro, cria-se desse modo um intervalo de tempo suficiente para que os agentes, mesmo os que não tenham aderido à URV, possam renegociar seus contratos já sob a expectativa de uma queda iminente na inflação.

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