São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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FHC, visto pelo PT

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Virtualmente definida a candidadura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência, o PT, até agora líder em todas as pesquisas sobre a sucessão, admite que pode sofrer algum prejuízo. "A sua base social, as classes médias, em muitos casos coincide com a nossa", avalia Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo petista.
Prejuízo que tende a ser maior pelos "trunfos" que Marco Aurélio, falando mais como sociólogo que é do que como coordenador, reconhece no novo candidato, a saber: "Apoio generalizado na mídia, apoio empresarial muito grande e o desempenho do programa econômico, sobre o qual, no entanto, pesam grandes interrogações".
A esse respeito, o coordenador do programa petista introduz um matiz. "Não subestimo o valor eleitoral de uma eventual estabilidade monetária, mas tampouco a superestimo", diz Marco Aurélio. Para ele, não se aplica cegamente ao Brasil o exemplo da Argentina, país em que a estabilidade da moeda de fato catapultou aos céus a popularidade do presidente Carlos Menem e de seu ministro da Economia, Domingo Cavallo.
"No Brasil, o fator que pode pesar tende a ser não a estabilidade da moeda, mas a dívida social", aposta o sociólogo do PT. Ou, em outras palavras, de pouco adiantaria reduzir simplesmente a inflação se as condições de vida continuassem ruins, como o são, para uma fatia ponderável da população.
Seja como for, a entrada de FHC no jogo eleitoral não vai alterar a estratégia do PT, que, por ironia, se assemelhará a de Fernando Collor em 1989. "A tendência do Lula será a de enfatizar a nossa própria proposta, sem se preocupar com a dos outros. Eles é que terão que demarcar a sua própria linha e em relação ao PT, o primeiro colocado", afirma Marco Aurélio.
A grande dúvida na cabeça do coordenador petista é esta: "Os demais concorrentes vão brigar com o Lula ou entre si?" A pergunta parte do pressuposto, hoje de generalizada aceitação, de que o primeiro turno servirá apenas para indicar o adversário de Lula, já que a sabedoria política convencional indica que o candidato do PT será um dos dois nomes para o turno final.

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