São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Problemas urbanos

NICOLAU IMTHON KLUPPEL

A engenharia moderna dispõe hoje de recursos tecnológicos para solucionar a totalidade dos problemas causados pela urbanização acelerada das cidades. Corrigir danos causados pela falta de um planejamento integral é uma tarefa relativamente fácil, depende apenas de bons projetos e de recursos.
O país está saturado de empresas consultoras ávidas em projetar obras faraônicas e as empreiteiras estão devidamente organizadas para direcionar os recursos orçamentários da União, Estados e municípios para seus cartéis. Vivemos atualmente o exemplo claro desta afirmativa.
O grande desafio para o profissional consciente é solucionar os problemas urbanos com um mínimo de recursos, garantir a proteção ambiental e manter ou até melhorar a paisagem urbana. Atuar de forma preventiva deve ser a meta para todas as cidades.
Foi com um planejamento integrado e preventivo que se conseguiu nos últimos 25 anos dotar Curitiba com um bom sistema de transporte, coleta seletiva de lixo, 52 m2 de área verde/habitante e com os maiores parques urbanos do país. Obras realizadas praticamente com recursos do próprio município.
Nossos prefeitos não necessitam mendigar em Brasília e muito menos participar dos conchavos do orçamento da União. Os projetos com repasses federais são fruto de um processo normal, onde a interferência política foi praticamente nula.
Dentro do mesmo processo tratamos agora a questão do esgoto sanitário. A engenharia moderna tem a tecnologia adequada para coletar e tratar esgotos sanitários, mas a custos nem sempre suportáveis pela população. As empresas de saneamento dependem de recursos externos e têm que garantir o retorno do investimento.
Por isso, áreas de menor densidade populacional não são atendidas em curto prazo, o que aumenta a poluição hídrica por esgotos lançados "in natura", causando a deterioração ambiental com sérios danos à saúde pública.
Curitiba estabeleceu uma solução intermediária. O Sistema Curitiba de Esgoto, que custa 1/3 do convencioal, baseia-se na implantação de uma rede coletora que atende residências na testada de cada quadra e uma fossa coletora instalada no final desta rede. O efluente tratado pela fossa é lançado na rede de águas pluviais reduzindo em 80% o material sólido e obtendo tratamento de 30% a 50% da DBO.
O sistema Curitiba já atende 600 habitantes ao custo de US$ 30/habitante. Este ano instalaremos mais 600 conjuntos que atenderão 30 mil pessoas e até o final desta gestão pretendemos atingir 300 mil habitantes.
Ou seja, os problemas urbanos não são assim tão complexos como alguns pretendem que sejam. Usando bom senso, criatividade e honestidade, muitos problemas podem ser resolvidos com pouco investimento.

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