São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Lixo não desprezível

Do ponto de vista individual, lixo é aquilo que não tem utilidade. É, assim, algo que aparentemente não interessa. Mas quando vários milhões de pessoas habitam uma mesma cidade, o tão desprezível lixo ganha uma importância especial.
Já não bastassem as dúvidas que pairam sobre a Prefeitura de São Paulo em relação à concorrência para a varrição e coleta de lixo –envolvendo quase meio bilhão de dólares–, surge agora grave falha no sistema de coleta seletiva.
O lixo de papéis, vidros, plásticos e latas, que parte da população deposita separadamente nos contêineres da prefeitura foi misturado ao lixo comum no aterro de Perus. O fato é lamentável pelo desrespeito com os cidadãos que se dão ao trabalho de separar seu próprio lixo sem nada receber para isso.
Assim como outras iniciativas "politicamente corretas", a coleta seletiva do lixo corre o risco de ser soterrada pelos tantos problemas que se amontoam em uma megalópole como São Paulo. Tais iniciativas são um começo necessário para enfrentar as novas questões colocadas por uma civilização moderna, cada vez mais complexa.
Quando há dificuldade em educar a população para assumir novos comportamentos, nada é mais nocivo do que desacreditar aqueles que se dispuseram a adotá-los.
Se, de fato, como declara a prefeitura, a triagem do lixo só foi suspensa temporariamente por problemas técnicos, seria no mínimo desejável que tal informação estivesse colocada nos pontos de coleta. Desse modo, as pessoas teriam sido poupadas de um trabalho que resultou inútil. Se, por outro lado, tratou-se de descaso, então o fato se agrava e configura uma atitude inaceitável de irresponsabilidade.

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