São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Procissões de Páscoa em Antigua fazem a maior festa da Guatemala

ROBERTO CATTANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A Semana Santa na Guatemala é algo como o Carnaval no Brasil: um evento esperado o ano todo. No lugar das escolas de samba, há grandiosas procissões das irmandades religiosas nas ruas das cidades e nas aldeias, muitas vezes enfeitadas com tapetes de flores.
Mas se a festa da Páscoa é intensamente vivida em toda a região, em lugar nenhum da Guatemala –ou até da América Central– o evento é mais espetacular do que na cidade de Antigua.
A antiga capital colonial do país foi arrasada por um dos mais violentos terremotos da história da humanidade, no dia de Santa Marta de 1773, e nunca foi completamente reconstruída.
Milhares e milhares de membros das irmandades (franciscanas, na maioria) desfilam ao som de marchas fúnebres, para celebrar o enterro de Cristo. Todos com roupas de tecidos luzentes, roxos ou pretos, longas até os pés. Os capuzes em ponta cobrem por completo os rostos, como nas procissões religiosas na Espanha ou lembrando os costumes da instituição racista Ku Klux Klan norte-americana. A fumaça dos incensários envolve todos os passantes.
Pintura barroca
Apesar de toda essa encenação, não há nada de sombrio ou lúgubre nas procissões: a força da fé confere majestade e vitalidade ao quadro, que muitas vezes parece tirado de uma pintura barroca.
Não falta nem mesmo o toque cômico: para acompanhar as representações da Paixão de Cristo –retratadas em estátuas carregadas nos ombros dos membros mascarados das irmandades–, há guatemaltecos vestidos de legionários e centuriões da Roma antiga.
Nos dias que precedem o domingo de "la Rese¤a", a população prepara riquíssimos enfeites de flores e sementes para cobrir o chão onde passará a procissão. As sacadas das janelas e os balcões de onde se vê passar a procissão também recebem adornos variados.
Páscoa, na América Central, é época de primavera, e as montanhas em volta de Antigua nessa época estão floridas. A marcha dos penitentes esmaga os enfeites perfumados, mas o Cristo parece literalmente andar sobre as flores.
Na mesma ocasião, a 90 km de Antigua, um vilarejo perdido na montanha, que atende pelo nome de Chichicastenango, também tem sua procissão das confrarias. É menos suntuosa, mas ainda mais pitoresca, pois a população é inteiramente indígena e os ritos cristãos mantêm ainda o sabor sincrético das cerimônias pré-colombianas.
Para completar a visita ao país, a cidadezinha (situada a 2.000 m de altitude) possui também a maior feira de tecidos típicos da América Central, com aqueles cobertores, ponchos enormes, bolsas e tapetes trançados com linas multicoloridas que são a própria imagem da Guatemala. Já vale a viagem.

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