São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Cientista 'rejuvenesce' músculo do coração

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

A partir dessa semana, surgem esperanças de que um infarto no coração poderá ser revertido. Cientistas dos EUA conseguiram, pela primeira vez, inserir células novas, funcionantes, no coração adulto de animais de laboratório.
"As células se espalharam pelo músculo do coração e passaram a fazer parte dele", disse à Folha Mark Soonpaa, do Instituto Krannert de Cardiologia da Universidade de Indiana. "Elas funcionaram como se fossem células do próprio coração."
Um infarto ocorre quando as artérias que levam sangue ao músculo do coração entopem. As células do músculo, então, ficam sem receber sangue e morrem, prejudicando ou impedindo a contração normal do coração.
"O problema é que o músculo cardíaco não consegue se regenerar", disse Soonpaa.
Em um artigo na edição de hoje da revista "Science", ele propõe um método que pode ser a solução para o problema.
Soonpaa usou células do coração de embriões de camundongos. Eram células cujos genes foram programados para torná-las azuis sob certas condições, facilitando sua identificação.
Por serem células embrionárias, elas ainda podiam se dividir, ao contrário de uma célula cardíaca adulta.
Em seguida, ele apanhou camundongos adultos com coração saudável. As células dos camundongos tinham exatamente os mesmos genes que as células embrionários (com exceção do marcador azul). Isso foi necessário para evitar a rejeição das células.
Quando o pesquisador colocou as células embrionárias no coração adulto, elas se dividiram durante dois dias, como era esperado, e se espalharam pelo coração. Mais importante, elas se integraram funcionalmente ao órgão, ajudando-o a bater.
"O batimento com as novas células era idêntico ao de corações que não receberam o implante", disse Soonpaa.
A técnica, quando e se completamente desenvolvida, terá grande aplicação em seres humanos.
Um homem infartado poderia ter algumas das células cardíacas que sobreviveram ao infarto retiradas e "rejuvenescidas" em laboratório. Essas células depois poderiam ser reinseridas no coração, onde se espalhariam e o ajudariam a recuperar o batimento normal.
"Mas ainda estamos longe disso", alerta Soonpaa. "Não conseguimos controlar o número de divisões que elas farão, e se elas se dividirem demais teremos um tumor."
Outro obstáculo é conseguir a mágica de rejuvenescer as células. "E isso ainda é mais difícil quando a gente quer restituir-lhes a capacidade de se dividir de maneira controlada. Mas é o que precisa ser feito."
Menor mortalidade
Cientistas britânicos conseguiram reduzir a mortalidade resultante do infarto em 21% com a administração de sulfato de magnésio imediatamente após o episódio.
Os resultados estão na edição de amanhã da revista médica "The Lancet".

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