São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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México investiga se houve conspiração

CHRISTINE TIERNEY
DA "REUTER", NA CIDADE DO MÉXICO

O assassinato de Luis Donaldo Colosio ainda está cercado de dúvidas preocupantes, o que obriga os investigadores a certificar-se de estarem seguindo todas as pistas.
O subprocurador-geral encarregado do caso, Miguel Montes, disse a jornalistas em Mexicali, capital da Baixa Califórnia (onde o assassinato ocorreu), que dois homens que haviam sido detidos temporariamente para interrogatório há uma semana e depois soltos continuam sob investigação.
Um deles teria apresentado resultado positivo no teste de vestígios de pólvora; o outro é um ex-policial. Os detalhes divulgados motivaram especulações sobre a hipótese de ter existido mais de um assassino e de o crime ter resultado de uma conspiração.
O suposto atirador que está preso, Mario Aburto Martínez, disse à polícia que tem vínculos com grupos armados no México, mas recusou-se a fornecer seus nomes. A investigação está sendo dirigida aos seguranças particulares contratados para o comício de Colosio pelo diretório local do PRI.
O segundo homem preso, Tranquilino Sánchez, é um segurança particular que foi contratado só para aquele dia. Ele foi indiciado na terça-feira com base num videoteipe que o mostra conversando com Aburto, no início do comício, e depois avançando em direção a Colosio, momentos antes de o candidato ser baleado.
O procurador Montes disse que as duas autópsias realizadas mostram que Colosio sofreu dois ferimentos, um no cérebro e outro no abdômen, mas apenas uma das balas foi identificada positivamente como tendo saído da arma de Arbuto. A outra bala se fragmentou ao penetrar no crânio de Colosio.
Foram feitas críticas à segurança oficial de Colosio, mas especialistas disseram que a estratégia de campanha do candidato, de buscar contato com o povo –sem a grande comitiva que normalmente cerca os candidatos presidenciais– o deixava vulnerável.
O videoteipe transmitido pela TV mexicana na segunda-feira mostra que o assassino pôde chegar suficientemente perto do candidato para encostar a arma em sua cabeça antes de apertar o gatilho.
Colosio, cuja candidatura estava prejudicada pelo desencanto da população com os 65 anos de governo do PRI, procurava criar um estilo próprio, baseando-se para isso em sua origem humilde e em seus esforços para fornecer serviços básicos para a população pobre através do programa Solidariedade.
Diferentemente do presidente Carlos Salinas de Gortari, que viaja acompanhado de uma comitiva quase imperial de seguranças e altos funcionários, Colosio costumava misturar-se às multidões, dando apertos de mão e beijando crianças em inúmeras cidades do México.
"A campanha de Colosio era muito diferente. A de Salinas foi faraônica, com muitos helicópteros e militares", disse Oscar Hinojosa, editor de política do jornal "El Financiero". A popularidade de Colosio cresceu à medida que ele passou a ser visto como um homem simples, que viajava em classe turística nos vôos comerciais e às vezes era visto no metrô da Cidade do México.
Seus assessores dizem que Colosio não gostava de ser cercado por um forte esquema de segurança. "Ele gostava de cumprimentar as pessoas. Mas as pessoas não gostavam da presença de muitos seguranças. Foi idéia de Colosio não incomodar ninguém com um grande esquema de segurança", disse Ernesto Lopez Tellez, porta-voz do PRI. "Reduzir a segurança foi sua opção pessoal."
Segundo Hinojosa, logo no início da campanha Colosio foi alvo de tiros, durante comícios em que estava cercado por guardas de elite da Presidência. A presença deles fortaleceu a idéia, amplamente difundida no México, de que o presidente escolhe seu sucessor e a eleição não passa de uma farsa.
Mas Colosio prometeu fazer uma campanha limpa, diferente das eleições anteriores, notoriamente marcadas por fraudes. "Colosio foi vítima de uma decisão tomada por ele e seu grupo, com um objetivo democrático e progressista –prescindir dos guardas presidenciais", afirmou Hinojosa.
Tradução de Clara Allain

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