São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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'Pão forte' combate desnutrição infantil

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Uma combinação balanceada de alimentos desenvolvida pelo Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vem obtendo bons resultados no combate à desnutrição de crianças carentes em seis comunidades da periferia de Contagem (MG). Além de mais saudáveis, elas estão melhorando o desempenho escolar.
Denominada "pão forte", esta combinação é um alimento alternativo de elevado teor nutritivo e que pode substituir com vantagem a carne, o leite e ovos.
Segundo o professor e imunologista da UFMG, Munir Chamone, 49, que desenvolveu a combinação, o pão forte, além de reduzir a desnutrição, o alimento tem baixo custo, o que facilita sua compra pelas populações carentes.
As crianças complementam a alimentação diária com dois ou três pães de 50 gramas cada um, produzidos na forma de broas. O custo de cada pão hoje está em torno de CR$ 20,00, enquanto que um pãozinho francês custa em torno de CR$ 60,00.
O pão forte é um composto energético que reúne vitaminas A e B-12, ferro, cálcio, proteínas. Em sua composição entram produtos da cesta básica, como arroz, feijão, óleo de soja, farinha, açúcar, trigo e fubá. "Procuramos combinar isso tudo porque os alimentos só funcionam bem quando balanceados. Dessa forma, as crianças ganham peso, crescem e ficam nutridas", disse Chamone.
A UFMG foi buscar parceiros para produzir e distribuir o pão forte entre a população carente. Foi criado o Projeto Centro Educacional em Saúde, que reúne a Prefeitura de Contagem, centros comunitários da região e a Legião Brasileira de Assistência.
O pão começou a ser distribuído há cerca de dois anos em três creches e quatro pré-escolas. O acompanhamento de cerca de 200 crianças mostrou que os resultados foram bons. Em duas creches, verificou-se que de 57 crianças que faziam uso do pão, apenas cinco (9%) apresentavam quadro de anemia.De 72 crianças que não consumiam o pão, 30 (42%) tinham anemia. As pesquisas mostraram ainda que o uso do pão forte faz melhorar a altura e o peso das crianças.
Em março de 93, de 47 crianças que comiam o pão, 34% tinham um desempenho escolar considerado "péssimo". No final do ano, porém, essa porcentagem havia caido para apenas 7%."O pão não é nenhum produto milagroso. Apenas é um alimento com uma mistura balanceada, que combina bem com a comida caseira", disse Chamoni.
Comitês
Dois comitês contra a fome de Belo Horizonte – o dos funcionários do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e o dos empregados do Centro de Pesquisa René Rachou – estão implantando minipadarias em dois bolsões de pobreza na periferia da cidade para a produção do pão forte.
Com o pão, os comitês querem mudar a forma de atuação no combate à fome, ajudando de outra forma as famílias miseráveis. "Ao invés de doarmos cestas básicas, fazemos um trabalho mais efetivo", disse Wagner Túlio Faria, coordenador do comitê do BDMG.
Os dois comitês estão fornecendo o equipamento necessário para a implantação das minipadarias – forno, botijões de gás e massadeira –, além do material para a contrução dos galpões.
Na Vila Mariquinhas, onde vivem cerca de 300 famílias, a maioria em barracas de lona, a minipadaria está sendo construída e este mês começa a produzir o pão forte.
Faria disse que a idéia é vender ao preço de custo (CR$ 16,00). O dinheiro da venda será usado na compra dos ingredientes. "Queremos que eles mesmo se organizem", disse.

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