São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
Índice

Dança sobressai em peça do grupo Escala

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

A peça "A Galinha dos Ovos de Ouro", de Roberto Caprarole e Edson Thomé e direção de Caprarole e Paulo Perez, segue o estilo das produções dramáticas da companhia de teatro Escala.
É um musical superproduzido em que a dança é o ponto forte, porque geralmente traduz o enredo em ação, o aspecto que mais atrai os pequenos espectadores.
Os atores têm ótima movimentação em cena e até estreantes, como a atriz Lau Vicente (no papel de Gabi), transmitem a história de forma eficaz (a coreografia é de Paulo Perez).
O enredo ambienta o conto clássico em uma pequena cidade brasileira fictícia. A menina Gabi vive com seu Tio Tonico (Marcio Mahakala), doceiro que prepara doces para a Festa do Divino.
Tonico manda a sobrinha comprar ovos na venda de Zé das Galinhas (Jorge Demétrio). Aproveitador, Zé vende uma galinha velha para a menina endiabrada, que consome a vida do tio.
Tonico fica bravo. Mas a galinha põe ovos de ouro e ele enriquece. Então surgem os problemas. A vizinha Natalina (Demétrio) demonstra inveja e espalha a notícia com estardalhaço.
O prefeito (Demétrio) quer cobrar taxas mais caras do ingênuo Tonico. O padre (Demétrio) pede doação para a igreja. Há ameaça de roubo da galinha. No final, as coisas se resolvem com Tonico ajudando os pobres.
O enredo repete a fórmula de "Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões" (um das melhores montagens de Caprarole), enfatizando a ganância da sociedade e a necessidade de justiça, mas sem o mesmo talento de "Robin".
As músicas e os diálogos têm menos graça e falta assunto na história, que alonga por demais a trama central e por causa disso a coreografia fica prejudicada (porque é excessiva).
No cenário (de Edson Thomé e Paula Valéria), a praça do interior é recriada na igreja e nas casinhas. Tem uma perspectiva diferente e é colorido com originalidade. Combina com a iluminação chocante rosa e amarela (Augusto Tiburtius).
Jorge Demétrio exagera na interpretação de Natalina. Contrasta com Mahakala, mais contido e equilibrado como Tonico. Demétrio estava bem como o Frei Tuck de "Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões". Não tinha a afetação estereotipada com que caracteriza Natalina, vizinha fofoqueira que usa bobs no cabelo, fala alto demais, requebra demais.
Teria sido melhor que uma atriz interpretasse a personagem. Porque a mensagem principal de "A Galinha dos Ovos de Ouro" é a transmissão do conto clássico, atualizada nas referências brasileiras que a adaptação traz.
Só há sentido em atores homens fazerem papéis de mulheres –e vice-versa– quando a tipologia dos personagens exige ênfase especial de representação, que provoque no espectador, por exemplo, estranhamento, ou distanciamento quanto à identificação com algum personagem.
Não é o caso com Natalina, personagem "plana", ou seja, de importância específica –representa a vizinha que existe em toda cidade do interior, responsável pela difusão da informação em forma de fofoca.

Peça: A Galinha dos Ovos de Ouro
Direção: Roberto Caprarole e Paulo Perez
Elenco: Marcio Mahakala, Jorge Demétrio e Lau vicente
Onde: Teatro Paramount (av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, tel. 35-0665)
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Quanto: CR$ 3.000,00

Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.