São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Ocidente ignora os "dividendos da paz"

DA "REUTER"

O fracasso dos países ocidentais em converter suas indústrias militares para finalidades civis, depois do fim da Guerra Fria, transformou o que era chamado de "dividendo da paz" numa "penalidade da paz", disse um relatório divulgado em Londres na última quarta-feira.
"Grandes perdas de vagas de trabalho e o fechamento de bases e fábricas ocorreram sem que houvesse aumentos compensatórios no emprego e na produção do setor civil", diz o documento da ProDem, um instituto privado de pesquisas ligado à Universidade de Leeds (Reino Unido).
Os EUA, que tinham 2,9 milhões de trabalhadores empregados na indústria bélica em 1990, poderiam tê-los reduzido em um terço por volta de 1995, enquanto a Europa ocidental poderia cortar seus números de 1,2 milhão para 700 mil no mesmo período.
O documento diz que a administração Bill Clinton investiu recursos "modestos" em conversão, mas manteve grande parte da estrutura industrial-militar da Guerra Fria intacta, o que seria coerente com uma busca contínua de projeção global de poder. "Com os gastos totais de defesa ainda altos, a conversão permanecerá subordinada à preferência das indústrias bélicas pela consolidação."
Os governos europeus fizeram ainda menos, diz o texto, deixando as indústrias tomarem suas próprias decisões quanto ao tema –embora a União Européia tenha destinado US$ 97,5 milhões a um plano-piloto de conversão, conhecido como Konver.
Para Steve Schofield, um dos autores do relatório, no Reino Unido "o que se requeria é uma compensação para os cortes de gastos com defesa, mas isso não ocorreu. Os cortes foram engolidos no 'buraco negro' das necessidades de financiamento do setor público".
Em todo o Ocidente, diz Schofield, a incapacidade de criar novos empregos para compensar aqueles que foram perdidos na indústria de defesa está provocando hostilidade em relação ao próprio desarmamento. "A percepção das pessoas é de que desarmamento equivale a desemprego", afirma.
O documento diz que os países que são grandes produtores de armas devem substituir a "estrutura industrial perversa da Guerra Fria" por uma economia de tempos de paz –e a ajuda governamental às companhias durante o período de transição é crucial.
Quanto ao dinheiro economizado pelo setor público no processo, o relatório recomenda investimentos em infra-estrutura, transporte público e tecnologias relacionadas à defesa do meio ambiente.
Acordos internacionais seriam necessários para limitar a disposição e os deslocamentos de tropas e equipamento militar ao estritamente necessário para a defesa doméstica, diz o documento, que também sugere a criação de uma agência internacional que se dedique a promover e coordenar programas de conversão industrial.

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