São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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O "grid" de largada

Generaliza-se no mundo político a impressão de que a disputa presidencial deste ano estará resumida a um número de candidatos fortes bem menor do que na eleição anterior, a de 1989. Embora ainda faltem definições importantes para compor o definitivo cenário de início da campanha, é razoável supor, de momento, que são apenas três os nomes com mais chances de chegar ao segundo turno.
O primeiro nome, óbvio, é o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que sistematicamente mantém algo em torno de 30% das intenções de voto em todas as pesquisas. A sabedoria política convencional, aliás, diz que Lula já está praticamente classificado para o turno decisivo.
Por extensão, a campanha para o primeiro turno parece resumir-se à escolha do adversário de Lula para a disputa final. Sob esse aspecto, destacam-se os dois nomes restantes: Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Orestes Quércia (PMDB).
A propósito de Quércia, convém fazer uma ressalva. Seu partido está tão dividido que sequer é definitivamente certo que o ex-governador paulista acabe sendo candidato. A cúpula peemedebista já tentou várias alternativas ao seu nome. Primeiro, o do deputado Antônio Britto, que preferiu disputar o governo gaúcho. Depois, foi o governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, que acabou decidindo não competir com Quércia.
Agora, em vez de um nome, a direção partidária idealizou uma fórmula, a prévia, como mecanismo para, eventualmente, afastar Quércia. Na prévia, versão brasileira das eleições primárias dos partidos norte-americanos, votam todos os cerca de 250 mil filiados do PMDB, enquanto na convenção, o caminho usual para se formalizar uma candidatura, os eleitores somam pouco mais de 500 pessoas.
Um universo mais amplo reduz, supõe-se, a influência que Quércia já teria conseguido junto aos convencionais. Se o ex-presidente José Sarney confirmar a sua intenção de também concorrer à prévia, fica mais difícil saber quem sairia vencedor e, portanto, quem seria o candidato do PMDB.
Seja quem for, será potencialmente forte, por se tratar do partido mais organizado em todo o país, um fator importante em uma eleição "casada", ou seja, para todos os níveis do Executivo e do Legislativo (exceto os municipais). Resta saber, ainda assim, se esse candidato conseguirá efetivamente reunificar a agremiação, sem o que sua força potencial se reduz, e muito.
Dos demais candidatos já virtualmente lançados, o mais forte, conforme as pesquisas, é Leonel Brizola (PDT). O ex-governador do Rio, no entanto, sofre de crônica anemia eleitoral em São Paulo e em Minas Gerais, Estados que concentram exatamente um terço do total de eleitores do país. A menos que consiga reverter esse panorama, Brizola será sempre um candidato eleitoralmente manco.
A fragilidade da candidatura de José Eduardo de Andrade Vieira (PTB) é de outra natureza. Presume-se que banqueiros, como ele, não são exatamente personagens populares, o que é um "handicap" fortemente negativo em campanhas eleitorais, nas quais as imagens, justas ou injustas, costumam contar muito. Além disso, seu partido é mal estruturado nacionalmente e não dispõe, em princípio, de candidatos fortes aos governos dos principais Estados, o que prejudica o candidato presidencial.
O PFL, o segundo maior partido, após o PMDB, autoenfraqueceu-se ao fazer uma aposta preferencial na coligação com o PSDB. Equivale a confessar que não dispõe de um candidato potencialmente forte.
Por fim, o PPR perdeu o seu candidato natural, aliás segundo colocado nas pesquisas, o prefeito paulistano Paulo Maluf. Mesmo que venha a lançar outro nome, seja o senador Esperidião Amin (SC), seja o senador Jarbas Passarinho (PA), já parte para a campanha com o estigma de escolha de segunda mão, em face da ausência do que seria o seu candidato preferido.
Tudo somado, portanto, tem-se um cenário em que a disputa tende a afunilar-se em torno dos nomes de Lula, Fernando Henrique e Quércia ou Sarney. Cabe a ressalva de que, faltando ainda seis meses para a primeira votação, qualquer avaliação com ares de definitiva é prematura. Mas, desta vez, até agora, os concorrentes principais são todos nomes com muita quilometragem rodada nas estradas da política, ao contrário do que ocorreu em 1989, quando eram muitas as novidades na corrida sucessória. Logo, reduzem-se as possibilidades de grandes surpresas.

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