São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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a mulher de 7 MILHÕES DE DÓLARES

CHRISTOPHER CONNELLY

Aos 25, quando a maioria das garotas ainda corre atrás de diploma, Julia "Pretty Woman" Roberts cobra US$ 7 milhões por filme. A atriz volta às telas como estudante em "O Dossiê Pelicano"
Por Christopher Connelly*
–Você se arrepende de não ter trabalhado nos últimos dois anos?
–Nem um pouco. E quem disse que não me diverti nos últimos dois anos? Passei muito tempo com minhas amigas, visitei minha família, viajei. O engraçado é que comecei a me divertir mais oito meses antes de fazer "O Dossiê Pelicano".
–Antes de desaparecer de cena você tinha trabalhado muito? Ficou estressada?
–Não estava tão estressada. As pessoas pensavam que eu deveria estar acabada depois de ter trabalhado tanto. Foi mais estressante ouvir as pessoas dizerem que eu estava estressada.
–O trabalho em "Pretty Woman" (Uma Linda Mulher, de 1990) teve a ver com isso? Houve algum atrito com o diretor Garry Marshall?
–Está brincando? Faria qualquer coisa por ele. Para Garry vai todo mérito por tudo aquilo que as pessoas gostaram em "Pretty Woman". Poderia ter feito ao menos sete filmes com o material que produzimos. Garry escolheu o melhor.
–Dizem que sua empresária lutou muito para que aceitassem sua recusa em trabalhar nua...
–Não queria me despir em "Pretty Woman". Minha empresária tentava um acordo, quando entrou na sala uma tal Sue Mengers (agente de uma das mais importantes agências de Hollywood) e disse: "Oi querida, o que há demais, não será tão trabalhoso!" Pensei: quem é ela e por que diz isso? Ela continuou: "Se eu tivesse um corpo como o seu, andaria nua até no supermercado". Quase explodi e não gravei nua.
–Te incomoda o fato de ser chamada de "Pretty Woman", o título do filme que marcou a sua imagem?
–Como poderia lamentar? Me incomodaria se o filme chamasse "uma garota medíocre" em vez de "uma garota bonita". Virar "pretty woman", tudo bem.
–É verdade que você era um patinho feio no colégio?
–Nunca fui alguém que chamasse atenção. As pessoas pensam que só porque alguém trabalha no cinema deve, obrigatoriamente, ser maravilhosa em todos os momentos. Quando vou ao supermercado, coloco a primeira roupa que encontro. Aí, as mulheres chegam e dizem que o que estou vestindo não valoriza a minha figura. Obrigada, vou lembrar disso da próxima vez! Talvez queiram ajudar, talvez pensem que sozinha uma pessoa não perceba quando está ridícula.
Depois do colégio, você deixou a Georgia, onde cresceu, e foi para Nova York. Queria fugir da família?
–Minha irmã já vivia em Nova York. Fiquei com ela. Acho que li mais, escrevi mais e me desenvolvi muito mais naquele ano do que nos quatro de colégio. Talvez minha mãe preferisse que eu ficasse com ela, mas eu estava determinada.
–Como viveu em Nova York?
–Trabalhei em muitas coisas. Trabalhei numa sorveteria italiana no Village e foi horrível porque não sabia fazer o creme de ovos e todos o queriam. Só em pensar me faz vomitar. Acho que o lugar onde fiquei mais tempo foi no Athlete's Foot, na 72.ª com a Broadway, perto do Gray's Papaya, onde se come por um dólar.
–Você se divertia?
–Trabalhava com rapazes simpáticos e vendia sapatos. Éramos vizinhos da rotisserie Popeyes. Devo dizer que fazer a contagem dos estoques no subsolo, perto dos frangos, era um verdadeiro purgatório. Você tinha de um lado o mundo real e de outro os frangos da Popeyes.
–O filme que a projetou e que a fez receber sua primeira indicação para o Oscar foi "Flores de Aço" (Steel Magnolias, de 1989). O diretor Herbert Ross te fez emagrecer porque você deveria interpretar uma doente, certo?
–Na verdade, quando interpretei "Flores de Aço" tinha acabado de me restabelecer de uma doença grave. Sou exagerada. Não fico resfriada. Tive logo uma meningite. Estava mal e a cada dia ficava mais pálida.
–Independente da saúde, as gravações não foram bem.
–Eu era muito jovem, tinha acabado de sarar. No set, Herbert não se comportou direito. Agora se justifica dizendo que tentava obter de mim um tipo de interpretação que eu não estava em condições de fazer. Disse: "Lembro de ter pedido a Julia se, depois de acabado o filme, ela não gostaria de tomar lições de interpretação e ela respondeu 'por quê?'. Falou isso para que eu passasse por burra. Mas o resto de minha carreira demonstrou que talvez o burro seja ele. Num certo momento, ele começou a discordar tanto de mim que Sally Field disse: "Se você não parar, vou embora porque não o suporto, você não tem nenhum senso e é mesquinho". Portanto, Herbert, saudações e me deixe em paz.
–Você se arrepende de ter trabalhado em "Hook, A Volta do Capitão Gancho" (Hook, de 1991), de Spielberg?
–Um amigo sempre diz: "Muitas preocupações, nenhum arrependimento". Não foi uma experiência infernal como pintaram. Até nos divertimos no set. Falam tantas histórias sobre os trabalhos nesse filme que fazem parecer muito pior do que foi na realidade.
–Você usou drogas durante os trabalhos do filme?
–Não fiz uso de drogas. Ponto e basta.
–Você nunca usou cocaína, nunca se drogou?
–Experimetei maconha uma vez só. Essa é toda a minha experiência com drogas! Sou a primeira a dizer que em toda a fofoca há um fundo de verdade, mesmo um pequeno fragmento. Esta, porém, é a única fofoca sobre mim que não tem qualquer fundamento. Podem me acusar de tudo mas, se devo ser punida por qualquer coisa, gostaria de ao menos tê-la feito e aproveitado.
–Você se diverte fazendo cinema?
–Sim, porque se vive mil histórias. Tenho 25 anos e já fui uma garçonete numa pizzaria, uma prostituta, morri e ressuscitei. Quem poderia dizer mais aos 25 anos? É o grande jogo da ficção. É divertido conhecer todos os aspectos de outras personalidades, as psicoses e os problemas. É fascinante a idéia de viver por três meses outra pessoa, procurando imaginar por que se comporta de um certo modo. Não gostaria de fazer nada diferente e não sei fazer outra coisa. Acho que sou uma péssima datilógrafa...

* REVISTA SETTE, DO "CORRIERE DELLA SERA"/TRADUÇÃO ANASTACIA CAMPANERUT

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