São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994 |
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Cidade influencia modo de enxergar a comida
DA REPORTAGEM LOCAL Descobrir como o modo de vida urbano influencia os valores simbólicos que as pessoas atribuem às refeições foi o objetivo da dissertação de mestrado de Rosa Garcia -"Representações Sociais da Comida no Meio Urbano".O trabalho foi apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), obteve nota dez, com distinção, e foi orientado pela professora Luiza Alonso Fernandes, da USP. Segundo Rosa, nutricionista e professora da PUC de Campinas, junto com os alimentos se "ingerem e digerem afetos". Isto é: os diversos tipos de refeições são investidos de símbolos que alteram o valor que as pessoas atribuem ao que comem. Para chegar a suas conclusões, Rosa entrevistou um grupo de funcionários públicos (técnicos administrativos) que trabalham e comem no centro velho da cidade de São Paulo (ruas Líbero Badaró, São Bento e adjacências). Observou também os lugares onde essas pessoas almoçam. Nas entrevistas das pessoas que não moram no centro, Rosa notou um forte contraste entre os valores atribuídos à refeição em casa e aquelas feitas na rua. Comer em casa é bom. À refeição na rua -no intervalo para o almoço- são atribuídos valores negativos relacionados ao trabalho: cansaço, doença. No entanto, nas mesmas entrevistas em que essa distinção era feita, as pessoas diziam ter refeições qualitativamente melhores na rua. Segundo Rosa, essa representação do que é melhor é influenciada por afetos investidos em valores familiares. Esses afetos idealizam o ritual de comer com a família, o apego às tradições culturais da família e a idéia de que a família está protegida social e economicamente, "comendo bem". O modo de vida urbano influencia também o comportamento alimentar (o tempo e espaço dedicado às refeições) em casa e vice versa. Restaurantes tradicionais do centro, com seviço completo (garçons, mesa com toalhas) vão aos pouco se acomodando às condições que o almoço no trabalho exige. Mesas de plástico, casas de self-service (comida por quilo, por exemplo) e de refeições em pé ganham espaço -não há muito tempo para comer. Por outro lado, as pessoas tendem a querer recompor o ambiente da casa mesmo nessas refeições apressadas. Levam amigos, vão sempre ao mesmo lugar e procuram estabelecer relações mais próximas, de camaradagem, com os funcionários de restaurante. Texto Anterior: Baixada Santista registra 22º caso de cólera Próximo Texto: WALTER CENEVIVA Índice |
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