São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Emilinha Borba procura um 'ghost-writer' para autobiografia

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Muitos se lamentam da história das suas vidas e fazem tudo para esquecê-la. Não a cantora carioca Emilinha Borba, 69 (alguns códices da história da MPB lhe dão 70). Ela não só quer lembrá-la como eternizá-la. Procura um "ghost writer" que ponha sua autobiografia no papel. E quer ver o livro publicado até o fim do ano.
"Fico espantada na rua quando me reconhecem e dizem que pensavam que eu já tinha morrido", comenta. "Acham que eu já fiz 100 anos".
É como se tivesse. Emilinha sabe que viveu muitas vidas. Mas promete contar só uma delas: "Nada de detalhes íntimos. Vou narrar minha trajetória como artista. Não vou cair no ridículo. Tenho coisas espetaculares para contar".
A tarefa não parece difícil para um totem da era do rádio. Emilinha conviveu com todas as pepitas da época de ouro da MPB, foi lançadora de clássicos e inspiradora de um dos mais antigos fãs-clubes da história –o Fã-Clube Nacional de Emilinha Borba, fundado em 1949. Sua rivalidade com a cantora Marlene rendeu até uma tese sobre idolatria e rádio na Universidade Federal de Santa Catarina.
Emilinha vai evitar que um fã faça o livro, embora o fã-clube já tenha se candidatado a fornecer filmografia, discografia e iconografia. "Já estou 'abrindo inscrições' para meu 'ghost-writer' ", avisa.
São três os os pré-requisitos: isenção, inteligência e linguagem popular. Explica: "O sujeito tem que saber usar o linguajar do meu povo. Sempre fui popular".
Emilinha prioriza sintomaticamente os mineiros. Já falou com o romancista Roberto Drummond e está de olho em Fernando Sabino: "Outro dia eu o vi no programa do Amaury Jr. Que inteligência!"
Sabino ou não, o escrivão de Emilinha terá de seguir suas determinações. Uma delas é o título do volume, tirado de uma guarânia lançada por ela nos anos 50: "História da Minha Vida".
"Vou pôr entre parênteses a palavra 'artística' para deixar bem claro que não quero escândalo", jura. "Livro vende pelos dizeres da capa, não pelo conteúdo".
Ela conta que já quebrou quatro gravadores desde que começou a registrar sua biografia, em meados do último ano. "Ainda não peguei na caneta, mas tenho algumas fitas bem guardadas numa caixa".
Segundo alguns fãs conhecedores de suas aventuras, túmulos e tálamos já tremem só de supor o que Emilinha vai revelar.

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Sobre Emilinha Borba à pág. 5-3

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