São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Lloyd Cole ajusta contas com influências

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

No mundo do cantor e compositor escocês Lloyd Cole, as pessoas se parecem com Greta Garbo ou Truman Capote. E estão sempre se guiando por algum romance de Norman Mailer ou Simone de Beauvoir.
No mundo de Cole as pessoas estão, invariavelmente, sofrendo. "Bad Vibes" seu terceiro disco solo após o colapso do grupo "Lloyd Cole and the Commotions", faz um ajuste de contas com todos os seu traumas.
Cole surgiu no cenário da música britânica no início da década passada. Ao lado de seus Commotions, revisitava cuidadosamente o som dos americanos Velvet Underground e The Byrds.
O resultado foi os discos "Rattlesnake (84), "Easy Pieces"(85) e "Mainstream"(87). E também uma série de canções que criavam uma espécie de mitologia em torno do líder da banda.
Letras que apresentavam relacionamentos amorosos em total dissolução. Sempre pontuadas com referências literárias explícitas. Quase como se criasse um jogo intelectual com o público.
Na verdade, uma banda que funcionava como uma dupla. A voz e as letras de Cole sustentadas pela guitarra de Neil Clark. Só que Cole não era Lou Reed e nem Clark se parecia com John Cale. E o que os tornavam mais próximos dos Velvets era o desencanto com o próprio sucesso. O grupo chega ao fim em 1989.
"Você já teve um sonho mau/ Acordou e ele não acabou?/ Você já sentiu algo por alguém por algum tempo e depois parou". A canção "Jennifer She Said", do segundo disco da banda resumia o estado das coisas quando Cole resolveu abandonar a Inglaterra e morar na cidade de Nova York.
Depois de um casamento e um apartamento alugado no Soho, em 90 surge seu primeiro disco solo: "Lloyd Cole". Apenas um eco do trabalho que havia realizado com o grupo. Um disco confuso, recheado de metáforas da moda, como comparar o amor a cocaína.
No ano seguinte é lançado "Don't Get Weird on me Babe", onde Cole se afunda no próprio romantismo, abusando dos arranjos com cordas e da sua própria imagem de poeta exilado.
Agora é a vez de "Bad Vibes". Uma espécie de acerto de contas com suas influências. Quase uma homenagem a nomes do psicodelismo dos anos 60 como Arthur Lee (um dos líderes do grupo californiano "Love" e uma das adorações de Cole), Jimmy Hendrix e Brian Wilson.
Vocais distorcidos, arranjos calcados nos discos "Revolver" dos Beatles e "Pet Sounds" dos Beach Boys. Algo tão evidente em canções como "My Way to You" e "Wild Mushrooms". Ou a irônica "Seen the Future", onde Cole prega qual será o futuro da música pop tentando cantar como Lennon.
Mas talvez a melhor canção de "Bad Vibes" seja mesmo "So You'd Like to Save The World", que começa com uma mensagem explícita: "Se você quer mudar o mundo/ É melhor começar com uma pessoa de cada vez/ Comece com alguém como eu".
Mas apesar de mais acertos que erros, esse disco ainda quarda algo de inacabado, indeciso. Quase decadente . Ouvir "Bad Vibes" se parece com a primeira vez que se chega a Londres. Um clima soturno, um pôster da rainha desejando boas-vindas, um paquistanês com sotaque de Oxford. Algo engraçado, curioso. E ao mesmo tempo melancólico.

Título: Bad Vibes
Autor: Lloyd Cole
Lançamento: PolyGram
Preço: CR$ 15 mil

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