São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Sem luz no túnel

A recente inauguração do túnel sob o rio Pinheiros, em São Paulo, faz ressurgir questões que extrapolam o âmbito de um município. Envolto em polêmica quanto a seus custos e méritos, o fato trouxe à pauta uma antiga e mal resolvida questão da política nacional: quem responde pelos gastos públicos.
Contratada inicialmente por US$ 67,7 milhões, a obra veio a custar quase o triplo, US$ 187 milhões. Esta cifra equivale ao total da arrecadação de IPTU de 93, imposto pago não sem esforço pela população.
Não bastasse a dúvida que surge naturalmente quanto à conveniência de empenhar tantos recursos numa única obra, vários outros fatores reforçam os questionamentos. Por exemplo, a ponte que transpõe o mesmo trecho de rio custou um quinto do preço, e o metro de construção do túnel saiu mais caro do que o das novas linhas de metrô.
A história dessa passagem subterrânea vem de longe, foi iniciada pelo prefeito Jânio Quadros, ficou paralisada na gestão Erundina e recebeu prioridade no governo de Paulo Maluf. Trata-se, portanto, de uma discussão já antiga. Mas nem por isso deve ser negligenciada. Nesse sentido, é inaceitável que sobre as tantas indagações que envolvem a obra, o prefeito limite-se a responder que "obra cara é obra parada".
Exemplos absurdos de políticos e mandatários que se sentem no direito de não dar satisfações quanto ao uso do dinheiro público infelizmente não faltam. Estão ainda à vista os restos abandonados da rodovia Transamazônica, para citar apenas o caso mais gritante.
Obras inacabadas ou cujos custos ultrapassam os benefícios constituem-se talvez numa das mais graves fontes de prejuízos para as finanças públicas. Mas os administradores (federais, estaduais e municipais) não respondem por eventuais danos aos erários. A fiscalização dos tribunais responsáveis é bastante precária, para não dizer inexistente, o que acaba estimulando a repetição sistemática desses imperdoáveis vícios administrativos.
O Brasil é, sabidamente, um país com graves carências sociais e, portanto, o mínimo que se pode exigir é que cesse o desperdício e que os responsáveis paguem por ele.

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