São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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A Lista do Castor

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Depois da lista de Schindler, nada demais que as cores nacionais reagissem e empatassem a peleja. Temos a lista do Castor, comprida como a outra e, como a outra, com finalidades igualmente humanitárias. Há muito que Castor de Andrade é um mecenas dos candidatos a isso ou aquilo, um Francisco de Assis que socorre policiais e políticos em momentos de aflição de espírito e penúria no bolso.
Infelizmente, nunca precisei do Castor para nada, nunca me habilitei à sua exemplar solidariedade. O que não chega a ser vantagem: não sou autoridade nem candidato a nada, não tenho cargo público que dê cacife para pleitear uma ajudazinha.
Apesar disso, admiro Castor de Andrade por outros motivos. Sei que ele tem esse lado marginal, assumido publicamente e publicamente condenado. Em 1990 eu editava uma revista ilustrada, a "Fatos e Fotos". No fechamento do número especial dedicado ao Carnaval, um dos fotógrafos botou na minha mesa um cromo 6x6.
Não era a Lilian Ramos ainda de calças, nem aquele "mixed" de coxas e seios que causam emoção em edições desse tipo. Era Castor de Andrade ajoelhado na pista do sambódromo, contrito, agradecendo a consagração que sua escola, a Mocidade de Padre Miguel, estava recebendo da multidão. Consagração mais tarde confirmada pelo Ibope e pelo júri oficial: foi o ano do "Vira virou".
Castor estava verde e branco. Terno, sapatos, gravata e chapéu brancos, camisa e meias verdes. Empenado apesar da idade e da saúde, que na hora de entrar em cana é sempre "delicada", ele me pareceu um personagem saído daqueles musicais de Vincent Minelli para a Metro. Aliás, quando Minelli esteve no Rio, fiquei afásico quando o vi adentrar o hall do Copacabana com sapatos verdes e meias brancas.
Publiquei a foto com destaque. Nem mesmo assim consegui entrar na lista do Castor. Tinha razão a vizinha que lá no Lins e Vasconcelos garantia para minha mãe que eu não daria para nada.

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