São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Barreiras faz 10 anos com safra recorde

SÉRGIO PRADO
ENVIADO ESPECIAL A BARREIRAS

O pólo agrícola do cerrado baiano, formado pelos municípios de Barreiras, São Desidério, Riachão das Neves, Correntina e Formosa do Rio Preto, completa dez anos e inicia a colheita da maior safra de sua história.
Segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a região está produzindo este ano 794 mil t de soja, 34% a mais do que em 93. Mas os produtores e as indústrias locais apostam numa safra bem maior (850 mil t). Os agricultores também estão retirando das lavouras 300 mil t de milho e 100 mil t de feijão.
"Começa amanhã, em Barreiras, a primeira grande colheita de soja no território baiano. São 42 mil t de grãos, dez vezes maior que no ano passado", lembram os recortes dos jornais de abril de 1984, guardados pelos pioneiros gaúchos e paranaenses.
Hoje, a área que integra a região conhecida como Bahia-Sul se firma como grande produtor de grãos, com quase 500 mil ha cultivados neste ano, praticamente sem financiamento oficial.
"Quem não tinha recursos próprios obteve dinheiro para plantar junto às indústrias e às empresas de sementes e insumos", afirma o paranaense Walter Horita, 30, produtor de 1.800 ha de soja, 1.200 ha de milho e 200 ha de feijão.
Apesar do grosso da produção ser de soja, o milho está entrando com força. "Os produtores estão usando o produto para realizar a rotação de culturas e como mais uma alternativa de lucro", diz Alcivando da Luz Júnior, 29, agrônomo da Agroceres, que vende mais de 30% de sementes do híbrido plantado em Barreiras.
Na avaliação do gaúcho Luiz Ricardi, 40, um dos mais bem sucedidos produtores locais, a diversificação é o único caminho para solidificar a fronteira agrícola.
"A variedade de oferta de produtos é que trará a agroindústria para cá", diz Ricardi, que nesta safra cultivou 5.800 ha de soja e 1.200 ha de milho.
A grande vantagem dos produtores da região em relação às outras áreas do cerrado tem sido a ausência de gastos com transporte. Instaladas no local há vários anos, a Ceval e a Olvebasa absorveram até agora toda produção. Enquanto isso, o milho é comercializado no mercado do Nordeste, sendo escoado por caminhões.
"Mas este ano deve sobrar cerca de 50 mil t de soja", diz Antônio Martins Matos, 49, gerente da Olvebasa. Idone Luiz Grolli, 40, da Ceval, entende que a saída para os próximos anos passa pelos trilhos de uma ferrovia.
A maioria dos produtores acredita que o ideal seria a construção de um ramal ligando Barreiras à ferrovia de Carajás, em Imperatriz (MA). De lá, a produção seguiria até o porto de Ponta da Madeira, em São Luiz.
"As rodovias BR 242 e BR 020 estão hoje uma vergonha. Quando a produção de milho, soja e feijão estourar será um caos para tirar os grãos daqui", diz o agricultor Danilo Tkumagai, 36.
A produção da região vai aumentar com a abertura de novas áreas, devido ao sucesso na colheita deste ano. Segundo o gerente da Agrocel, empresa que vende sementes e insumos, Norberto Henke, ainda há mais de 3,5 milhões de ha para serem ocupados.

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Sobre Barreiras na pag. 6-3

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