São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Safra facilita o combate à fome

AMILCAR GRAMACHO

As chuvas voltaram à região Nordeste e com elas a perspectiva de muita atividade na lavoura. Enxadas e arados voltam a sulcar a terra para nela fixarem as sementes e renovar as esperanças de reduzir a fome e a penúria.
Pelas estimativas oficiais acredita-se que o Nordeste deverá plantar a mesma área cultivada em 1991. Isto significa 32% a mais de ocupação em relação a 1993. Em termos de produção, deve-se duplicar a colheita de arroz e triplicar a de milho e de feijão. É possível acreditar, também, que seus reflexos resultem três ou quatro vezes maiores nos negócios das populares feiras regionais e nas demais atividades "fora-da-porteira".
Além de tudo, um alívio enorme na questão da fome e na pressão sobre os programas de segurança alimentar, que vinham se apoiando nos excedentes de mercado estocados na região Sul do país. Mas a retrospectiva não aconselha, entretanto, que se deva pensar na desativação apressada desses programas. É preciso, isto sim, priorizar as estratégias operacionais que busquem garantir condições de estocagem satisfatória, para não se perder os eventuais excedentes.
Se por um lado a safra do Nordeste tende a produzir excelentes resultados do ponto de vista social para a própria região, por outro não se acredita que ela venha a alterar significativamente as condições dos mercados agrícolas no restante do país. Principalmente em função de um provável aquecimento da demanda, em decorrência do plano econômico.
Na verdade, o Brasil vem sendo um importador assíduo de milho e arroz e continuará nessa condição no presente ano, embora em escala mais reduzida. As alterações mais sensíveis deverão se concentrar no mercado de feijão, visto que os elevados preços deste início de ano estimularam o plantio em todas as regiões do país, fazendo prever uma produção bem maior e preços em queda a partir de maio próximo.
Finalmente, é sempre bom lembrar que o Brasil, mesmo com a nova supersafra, deverá importar cerca de 8 milhões de toneladas de produtos agrícolas, principalmente cereais de inverno e algodão, com dispêndios da ordem de US$ 1,5 bilhão por ano. E que esta supersafra, ainda que desejável sob todos os aspectos, não é resultado de qualquer política de fomento por parte do governo.

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