São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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CPI do Bicho

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Inocêncio Oliveira ganhou espaço no Jornal Nacional de ontem com a promessa de uma investigação rigorosa para o escândalo do bicho. Segundo o presidente da Câmara, "tudo tem que ser investigado a fundo". É difícil entender por que alguém ainda presta atenção. Ele próprio protagonista de um escândalo –nos poços– Inocêncio foi um dos responsáveis pela pizza, hoje indiscutível, no escândalo do Orçamento.
No escândalo Collor, ainda pegaram alguém. Agora, nem se deram ao trabalho e já estão prometendo novas cabeças. É assim que vão motivando propostas amalucadas, como a do deputado federal Amaral Netto, também no Jornal Nacional. "Eu quero que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, sob o comando do presidente, venham limpar o Rio de Janeiro." Só por duas ou três semanas, promete o nobre deputado.
Ressurreição e fé
A televisão ficou de fora, certamente por conta da vulgarização das reformas ministeriais. Mas a CBN, a primeira rede nacional de rádio, ligada à Globo, estava lá, prestando atenção aos discursos do ministro que saía e do que entrava. Desta vez, tinham mais a falar do que de costume. Nem tanto pelos balanços ou pelas promessas, mas pela súbita conversão cristã do Estado.
Era esperado que Rubens Ricupero entrasse lembrando a Semana Santa. Ele usou uma imagem particularmente carregada. "Assim como à dor da Paixão sucedeu a alegria da Páscoa", disse ele, na última citação de seu discurso, "peçamos a Deus para fazer dos intermináveis anos de sofrimento e frustração do nosso povo o prelúdio da radiosa manhã da ressurreição do Brasil."
Mas ninguém esperava o mesmo de Fernando Henrique Cardoso. Talvez impregnado pelas palavras do sucessor –pois falou de improviso, em seguida– o candidato estava que era só fé e esperança, duas palavras que repetiu sem parar. Assim foi também com várias outras, como "comunhão". Deu-se até a liberdade de falar contra os cínicos, em referência aos que não têm fé em Deus.
Agora é esperar muito mais, dos nossos monásticos políticos, conforme vai-se polarizando a campanha eleitoral. Lula também já deu seu depoimento. A fé do brasileiro, neste fim de século e fim de milênio, está crescendo, como é claro na TV. A fé dos candidatos vai atrás.

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