São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Risco de ser brasileiro

MARCO AURÉLIO DIAS DA SILVA

A Sociedade Brasileira de Cardiologia, através do seu Fundo de Pesquisa, o Funcor, vem coordenando, em nível nacional, um estudo realizado simultaneamente em todos os países sul-americanos, o qual se propõe a verificar quais são, no nosso continente, os fatores que predispõem as pessoas a sofrerem de doença das coronárias.
Até hoje, nós, médicos do Terceiro Mundo, temos trabalhado com a hipótese, e nela acreditado, que os fatores tidos no mundo desenvolvido como sendo de risco para doenças cardiovasculares são válidos, também, para a nossa pobre realidade de mestiços, subdesenvolvidos e subnutridos. É possível, quase certo, que seja assim.
Mas não há comprovação científica e é isto que o Fricas (sigla do estudo) tenta obter. Para tanto, arrolaram-se, para participar da pesquisa, 31 hospitais, em todo o país, que atendem pessoas que sofreram infarto como portadores de outras doenças.
Segundo o protocolo do estudo, cada paciente infartado será comparado com um não-infartado de características semelhantes em termos de idade, sexo, peso e nível social e econômico. Através de entrevista pessoal padronizada e dosagem de colesterol no sangue, serão avaliados os fatores, que, classicamente, são considerados predisponentes para a ocorrência da doença coronária, como hipertensão arterial, fumo, níveis altos de colesterol, stress, sedentarismo, diabetes e obesidade. A meta é incluir um total de 2.000 pessoas até março de 1995, o que, sem dúvida, permitirá uma avaliação segura da nossa realidade.
Mas o que motiva este artigo é a seguinte questão: será o fato de ser brasileiro, nos dias de hoje, por si só, um fator de risco? Ou, em outras palavras: será que a insegurança, a desesperança, o ceticismo que envolve a todos nos tornam mais predispostos a sofrer de angina, infarto do miocárdio, pressão alta, etc.?
Embora não tenhamos, a respeito, estudos que nos permitam embasar, cientificamente, uma resposta afirmativa, tanto a intuição como a lógica nos sugerem que seja assim. Afinal, infelicidade e pessimismo são fatores de doenças. E pessimismo é o que, com razão, não falta ao brasileiro.

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