São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Verve comemora 50 anos com festa em NY

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Uma verdadeira salada é o que vai ser a comemoração dos 50 anos da gravadora Verve no Carnegie Hall em Nova York, nesta quarta-feira a noite.
Deverá lembrar pouco o selo que mais influenciou a música neste século.
Quase nada de Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Charlie Parker, Stan Getz ou Lester Young. Nem o grupo Velvet Undergroud ou Frank Zappa.
Um pianista japonês, Yosuke Yamashita, vai tocar porque os organizadores fizeram uma concessão à televisão japonesa, que vai filmar o evento.
Outra performance será apresentada por um pianista quase desconhecido de 17 anos, Peter Delano.
Há também uma mistura de artistas novos e antigos, que pode ser a melhor parte: Shirley Horn, Herbie Hancock, Benny Carter, Jackie McLean e Astrud Gilberto, entre poucos outros. Tom Jobim também faz parte dessa lista.
Com essa programação, é ainda incerto que Norman Granz apareça esta noite. Aos 76 anos, o fundador da Verve vive na Suíça e até o início da semana não havia confirmado presença no evento.
Granz era um homem do show business e conhecia dezenas de músicos em 1944.
Naquele ano, promoveu um concerto em benefício e defesa dos jovens mexicanos presos nos distúrbios de Zoot Suit, em Los Angeles, e gravou as músicas.
Illinois Jacquet, Nat King Cole e Les Paul haviam tocado e uma música de Jacquet, "Blues, Part 2", transformou-se num hit.
A fórmula havia sido descoberta e o selo Verve (palavra francesa que significa calor ou vivacidade de imaginação) lançado.
Mais tarde, Granz começou a mandar grupos de músicos para várias partes dos EUA em concertos que eram quase sempre gravados. A programação era chamada Jazz at the Philharmonic.
Esses tours de músicos pelo país foram o diferencial entre a Verve e vários outros pequenos e importantes selos (Blue Note, Prestige e Savoy, todos da costa leste) que surgiam nos Estados Unidos na mesma época.
Havia outra diferença. Norman Granz previu a evolução da música que gostava e nos anos 50 gravou Art Tatum, Coleman Hawkins, Benny Carter e Ben Webster, todos músicos que improvisavam, numa época em que o be-bop era a forma dominante do jazz.
Oscar Peterson e Dizzy Gillespie também saíram pela Verve quando o trompete não fazia sucesso.
Uma das últimas empreitadas de Granz à frente da Verve foi a gravação, a partir de 1956, de Ella Fitzgerald cantando músicas de Cole Porter, George e Ira Gershwin, Harold Arlen e Irving Berlin.
Em 1960 a Verve entrou em uma nova fase. Granz vendeu a gravadora para a MGM, que em 1972 também acabou vendendo o selo para uma empresa que se tranformaria na Polygram anos depois.
A Verve começou a misturar gêneros, mas manteve sempre o nível. Gravou desde o pianista Bill Evans a Velvet Underground (de Lou Reed) e Frank Zappa.
A discografia da Verve conta hoje com mais de 800 páginas.
Ainda hoje, nenhuma outra gravadora consegue lançar tão rapidamente e bem músicos de jazz como a Verve. O espetáculo dessa noite no Carnegie Hall é apenas mais um sinal dos tempos.

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