São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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O susto nas Bolsas

A recente elevação dos juros nos EUA culminou em uma brusca queda nas principais Bolsas de Valores do mundo, anteontem. No Brasil, a excepcional queda de 10,5% da Bolsa de São Paulo deveu-se à expectativa de que sairiam recursos de investidores estrangeiros. O temor dos juros, porém, parece ter sido exagerado, tanto que, ontem, as Bolsas voltaram a subir.
No Brasil, o movimento das ações tem um impacto relativamente pequeno sobre a economia. Mas o mesmo não se pode dizer dos juros internacionais. Nas últimas décadas, foram poucos os anos nos quais o país gozou de uma posição confortável no setor externo, como ocorre hoje. Os juros internacionais ganham importância no resultado do balanço de pagamentos.
Tais oscilações financeiras terão grande impacto não só durante a implantação do Plano FHC, mas também nos próximos anos, se a estabilização vier. Pelo desenho do plano e pela experiência recente de outros países, dificilmente o governo escapará de algum tipo de âncora cambial. Assim, as reservas em divisas terão um papel fundamental no respaldo da nova moeda.
Após o susto de segunda-feira, a relativa tranquilização das Bolsas indica que, segundo expectativas do mercado, os juros americanos tendem a estabilizar-se em um patamar não distante do atual.
Para o Brasil, tal nível não assusta, seja porque ainda é relativamente baixo, se comparado aos anos de crise da dívida externa, seja porque a balança comercial vem demonstrando consistentes resultados positivos, capazes de neutralizar eventuais perdas na área financeira. De qualquer forma, é importante que as autoridades monetárias estejam atentas para a necessidade de manter, internamente, uma taxa de juros atraente para os investidores externos, agora seduzidos pela alta nos Estados Unidos.
De todo o episódio, fica a evidência de que globalização não é um conceito abstrato, mas uma realidade que afeta cotidianamente a economia de cada país.

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