São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Já ganhou, não ganhamos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A palavra de ordem que Luiz Inácio Lula da Silva, virtual candidato presidencial do PT, vem disseminando junto aos quadros partidários é esta: "Ainda não ganhamos nada".
Parece óbvio. Por mais que todas as pesquisas de opinião pública coloquem Lula em primeiro lugar, com razoável folga sobre quaisquer adversários, o fato é que o Tribunal Superior Eleitoral ainda não legalizou as pesquisas como substitutas das urnas. Logo, Lula de fato não ganhou até agora coisa alguma.
Mas, no PT, o ambiente de "já ganhou" tornou-se tão forte, justamente em função do resultado das pesquisas, que Lula é obrigado a emitir o recado acautelador. Se a máquina petista afrouxar, por excesso de confiança, vai morrer com o grito de "já ganhou" entalado na garganta.
Suspeito, aliás, que a palavra de ordem tem como objetivo prioritário movimentar o PT para tentar arrancar a vitória já no primeiro turno. A ofensiva aliancista de Lula, contrariando os radicais do partido nos Estados, é mais uma indicação do mesmo desejo de liquidar a fatura já no dia 3 de outubro.
Sábia precaução. Se de fato Lula chegar ao turno final, o seu adversário, qualquer que seja, terá um apoio tão enorme no empresariado que pode fazer Lula morrer outra vez na praia.
É eloquente a respeito a pesquisa mensal do "Update", o boletim quinzenal da Câmara Americana de Comércio, seção São Paulo. Diz o texto: "O leitor, ou aquele que não acompanha de perto a recente história do Brasil, pode achar estranhos os resultados da última pesquisa mensal 'Update'. Ela registrou, neste mês de março, o maior grau de confiança empresarial e de aprovação à política econômica federal, desde o seu lançamento no final de 1990".
O boletim não diz, mas parece lógico deduzir que esse surpreendente entusiasmo empresarial decorre menos da economia e mais da política ou, mais especificamente, da candidatura FHC, ainda que a pesquisa tenha sido feita antes da formalização da candidatura.
Esse pessoal vai querer manter o entusiasmo também depois da troca de presidente. Nada contra. Mas que jogue limpo, ao contrário do que ocorreu na eleição presidencial anterior.

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