São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Alianças e programa

TASSO JEREISSATI

Os jornais têm dedicado boa parte de seu noticiário a especulações sobre possíveis alianças partidárias com vistas à sucessão presidencial. Muito se tem falado sobre composição de chapas, prováveis nomes para compor essas chapas e pouco se tem discutido uma questão fundamental para a construção de uma aliança política: o programa de governo.
Nós temos repetido, até com certa insistência, que não interessa ao PSDB a construção de uma aliança com fins meramente eleitorais –que possa até ganhar a eleição–, mas que não dê ao partido condições de governar o país, imprimindo as mudanças inadiáveis.
É bastante conhecido o diagnóstico do partido e de suas principais lideranças em relação à grande crise brasileira: o impasse é político. Os últimos governos brasileiros, desde Figueiredo, não apresentaram uma proposta clara para o país e, por conta disso, nunca obtiveram uma sustentação política sólida.
Tornaram-se conhecidos o clientelismo e o fisiologismo que, de uma maneira ou de outra, são filhos diretos dessa desordem. Sem um projeto global para o país, os governos apresentam ao Congresso propostas pontuais que são discutidas caso a caso no Congresso, de forma desconecta. Mesmo os projetos isolados ficam entregues à uma desbragada barganha de cunho puramente clientelista sem nenhum compromisso de maior abrangência.
O maior paradoxo dessas negociações é que as alianças feitas para garantir a aprovação de cada projeto são as mais diversas. Ora a aliança do governo é com a chamada esquerda, ora com os chamados conservadores. Ou até os dois ou nenhum deles.
Ao PSDB não interessa apenas ganhar as eleições e não ter condições de implantar seu projeto para o país. Aliás, esta foi a razão que nos afastou de uma aliança almejada com o PT. A cada votação de um projeto no Congresso Nacional ficavam mais claras as divergências programáticas entre o PSDB e o PT. Divergência esta que ficou mais explícita com a divulgação do programa do PT e a rejeição dos petistas ao programa de estabilização econômica apresentado pelo ex-ministro Fernando Henrique Cardoso.
Queremos alianças, sim. Elas são absolutamente necessárias a um partido que é consciente de que sozinho não terá de imediato o cacife político para bancar o projeto de transformações e reformas que pretende fazer. Assim como nenhum outro partido terá essa maioria nesse cenário brasileiro.
A discussão verdadeira, portanto, não é a de quem será o vice ou quem indicará o vice. A discussão verdadeira é a de que os partidos políticos aliados na campanha saiam previamente comprometidos de maneira transparente com um programa para o país e dispostos a dar-lhe a sustentação necessária independente das discussões isoladas de cargos, de cunho clientelista, que deve ser banida definitivamente da vida política brasileira no próximo governo.
Ao propor alianças políticas a outros partidos, daremos o passo seguinte de elaborar e discutir um programa comum que será o instrumento único capaz de legitimar tais alianças. A espinha dorsal, a base do programa do PSDB, já é conhecida: o programa de estabilização econômica, cujo objetivo final é um governo voltado para dar a todos os brasileiros educação, saúde, saneamento básico e a oportunidade de trabalho.

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