São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Yom Hashua

ISRAEL ISSER LEVIN

Ao longo de sua existência, o povo judeu tem sido submetido a provações e perseguições que têm posto à prova sua capacidade de sobrevivência material e espiritual. Isto ocorreu porque desde o exílio, iniciado por volta de 70 d.C., os judeus permaneceram sem uma pátria, um Estado próprio que pudesse lhes dar sustentação e segurança.
Já na Idade Média, em muitas cidades da França e da Alemanha, comunidades judaicas foram massacradas após serem insufladas, frequentemente pelas próprias autoridades, que assim desviavam a atenção da população de problemas como a fome e a peste, que as referidas autoridades não conseguiam resolver. É o que se chamou de uso do judeu como bode expiatório de problemas que ele nunca havia criado.
Apesar de perseguições terem sido frequentes, nada se compara ao holocausto, o massacre maciço de judeus perpetrado pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Seis milhões de judeus foram mortos em campos de extermínio e a comunidade judaica se prometeu que, primeiro, isto nunca mais iria acontecer e, segundo, isto nunca seria esquecido. Para isto recordamos o holocausto no dia de hoje, chamado em hebraico de Yom Hashua.
Ainda hoje nos perguntamos por quê? Porque os nazistas perpetraram uma matança tão grande, tão sem motivos, contra um povo pacífico que queria apenas o direito de viver em paz, preservando sua cultura e praticando suas tradições e sua religião?
A precisa eficiência alemã nos atacou com ferocidade nos campos de extermínio. Juntou-se a uma teoria racista um líder carismático e cruel; juntou-se a um ressentimento contra o mundo, um sonho de superioridade racial; juntou-se a necessidade de se encontrar um inimigo universal, um povo fragilizado e pacífico, talvez até um pouco ingênuo. O resto da história conhecemos todos.
Se não conseguiram a destruição física de todos os judeus, os nazistas quase conseguiram a destruição do judaísmo europeu com sua língua, sua literatura, suas práticas cotidianas, seus valores.
Mas nossos mártires não morreram em vão. Suas mortes cevaram a terra onde, alguns anos depois, ressurgiria o moderno Estado de Israel. A ideologia de seus carrascos representa até hoje (e continuará representando através dos séculos) o que há de mais desumano e avesso à civilização.
O racismo, base do seu pensamento, é considerado por todos crime dos mais nefastos. Já o judaísmo continuará inundando a humanidade com seus valores positivos, sua visão de mundo e dignidade.
Nós brasileiros de origem judaica desejamos a união de todos a favor de um mundo em que a paz substitua as guerras, o amor ocupe os espaços do ódio em nossos corações e a tolerância substitua o preconceito e o rancor.

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