São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Raves esquentam as noites de Londres

CAMILO ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

São onze e meia de quinta-feira, e os seguranças do clube londrino Megatripolis gritam para a fila que dobra a esquina: "Fechado! Lotação esgotada!"
Sexta à noite, porta do Megadog, festa mensal itinerante. Megatripolis e Megadog são conhecidos como "festy-raves" ou clubes-festivais. Transformaram o ato de sair à noite numa experiência múltipla.
Desde o ano passado o sucesso desses lugares é impressionante. E o fenômeno só aumenta. Publicações como Melody Maker e Face dão destaque aos clubes-festivais.
Mas afinal que espécie de lugares são esses: clubes, shows, festivais, raves ou festas? Acredite se puder, é tudo isso e muito mais.
Decoração alucinógena, efeitos visuais para atordoar até o mais adrenalinado, ritmos pesados nas pistas, três ou quatro bandas ao vivo, gente de todos os estilos, idades e gostos, todos completamente fora de si e muito a vontade.
O Megadog nasceu a partir do Club Dog, que existe há oito anos e acontece ainda no decadente pub Robey, ao norte de Londres.
Era um ponto de encontro de malucos de todas as espécies, sub-culturas alternativas, como hippies, rastafaris e góticos.
O som e as bandas incluíam muito eletrônico experimental, progressivo antigo, dub, rock esquisitão e world music.
Em 1989 a cultura rave/dance na Inglaterra decolou para uma popularização que vigora até hoje.
A infiltração em lugares como o Club Dog (seguindo exemplo de seu equivalente campestre, os "free-festivals") era natural.
Foi o encontro de dois públicos ávidos por festa 24 horas e por ficar, como dizem por aqui, "complitely out of their heads" (completamente fora de suas cabeças).
O Club Dog ficou pequeno para tanta gente. Surgiu o Megadog, com as bandas como Ozric Tentacles (progressivo-dub) , Underworld (ambient-tecno fantasmagórico) e Senser (rap panfletário).
O Megatripolis surgiu em 93. Na pista principal, o palco fica tomado por lunáticos dançando, depois que as bandas se apresentam.
Uma enorme feira hippie se espalha pelos corredores do local, onde dá para comprar camisetas, chapéus, fanzines, furar orelhas, fazer tatuagens, ver mágicas ou se informar sobre campanhas de legalização da maconha e combate às legislações anti-rave do governo.
O Megatripolis se apresenta em seus panfletos como um lugar aberto a todas as manifestações individuais e coletivas.
As drogas têm um papel fundamental nos clubes-festivais. Além do ecstasy e anfetamina, já tradicionais, o ácido e a maconha ganharam terreno. As portas de banheiros e passagens escuras têm clima de feira livre, com ofertas: "Trips!" (ácido) "Es!" (ecstasy).
Outro lugarzinho bizarro é o Whirl-Y-Gig. Vai das seis à meia-noite de sábado. A idade varia de 6 a 60 anos. Segundo o convite, crianças com menos de 12 anos não pagam.
E tem mesmo crianças com menos de 12 anos, em meio a malabaristas, gente com cara pintada (não confundir), universitários e gente de poncho.

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